Vicente Moura sai sem deixar desporto olímpico como queria
"Tenho a sensação de que foi muito mais fácil cumprir os objetivos de caráter administrativo, organizativo, internacional, e de consolidação de uma instituição do que propriamente conseguir que o desporto olímpico português evoluísse para um nível em que eu gostaria de o deixar. Isso, infelizmente, não consegui", disse.
Em entrevista à agência Lusa, Vicente Moura assegurou que sai de consciência tranquila após quatro mandatos consecutivos, entre 1997 e 2013, aos quais se juntam outros dois anos na liderança do COP, de 1990 a 1992.
"Tenho a consciência tranquila e a também a convicção de que ao longo destes quatro mandatos cumpri todos os objetivos a que me tinha proposto", disse, admitindo que Portugal continua a precisar de um "sistema desportivo integrado, digno desse nome", afirma.
Para as eleições do COP, que deverão ocorrer na segunda quinzena de março, foram formalizadas duas candidaturas, lideradas por Marques da Silva, atual secretário-geral do organismo, e José Manuel Constantino, antigo presidente da Confederação do Desporto de Portugal e do Instituto do Desporto de Portugal.
Na entrevista à Lusa, o presidente do COP abordou ainda outros temas:
ELEIÇÕES: "Não tenho delfins".
Vicente Moura assegura que não tem delfins para lhe sucederem na presidência e considera que qualquer um dos dois candidatos às eleições de março tem condições para fazer um bom trabalho.
"O sistema do COP é presidencialista, eu é que vou presidir às eleições e portanto não posso ter um candidato preferido. Já disse muitas vezes que não tenho delfins", refere.
Vicente Moura considera que "qualquer das candidaturas que ganhe tem condições para levar o comité olímpico mais além".
"Sou muito amigo do Marques da Silva, trabalhou comigo, foi um homem leal ao longo destes anos que esteve comigo. Vejo com bons olhos a sua perspetiva de eleição, como também vejo com bons olhos a perspetiva de eleição de José Manuel Constantino, que é uma pessoa que pensa bem estas matérias", disse.
CDP: Vicente Moura defende integração no COP.
Vicente Moura defende a integração da Confederação do Desporto de Portugal (CDP) no COP, considerando que o movimento desportivo português deve estar unido e coeso.
"Propus há muitos anos que a CDP integrasse o COP. Não faz sentido o movimento desportivo português estar separado. Quanto mais unido estiver, mais forte é perante o poder político e perante a opinião pública", afirma.
Segundo Vicente Moura, "uma simples mudança estatutária" permitiria a integração, "desde que o COP tivesse um presidente, e duas vice-presidências, uma para o desporto olímpico, outra para o desporto não olímpico".
O presidente do COP defende que a integração "permitiria reduzir despesas e intensificar a colaboração entre as federações", acrescentando: "Pode ser que estejamos a caminhar para isso, seria bom para o desporto português".
MELHOR MOMENTO: Medalha de Carlos Lopes e nova sede do COP.
A medalha de ouro conquistada por Carlos Lopes em Los Angeles1984 foi um dos momentos inesquecíveis da passagem de Vicente Moura pelo COP, numa altura em que ainda não era presidente do organismo.
"Um dos melhores momentos [aconteceu quando] ainda não era presidente: Los Angeles, o Carlos Lopes a ganhar a maratona, o sol a pôr-se no estádio olímpico, a bandeira a subir ao mastro mais alto, a ouvir o hino português e a concluir que os portugueses não tinham nenhum atraso físico atávico, que éramos iguais a qualquer pessoa no mundo", disse.
Outro dos grandes momentos foi, para Vicente Moura, a inauguração da sede do COP, em maio de 2000, numa cerimónia que contou com a presença dos presidentes da República portuguesa e do Comité Olímpico Internacional.
"Vivíamos num rés-do-chão, depois fomos viver para uma cave e depois mudamo-nos para esta sede, tivemos aqui o [Juan Antonio] Samaranch e o presidente da República Jorge Sampaio. Verificámos que tínhamos, na altura, a melhor sede da Europa. Isto provou que o sonho comanda a vida", afirma.
PIOR MOMENTO: Salto de Naide Gomes em Pequim.
Vicente Moura confessa que viveu o pior momento à frente dos destinos do COP a 19 de agosto de 2008, quando Naide Gomes falhou a qualificação para a final olímpica do salto em comprimento.
"O momento menos bom foi o salto falhado da Naide Gomes, em Pequim", assegura.
Nesse dia, chegou a ser noticiada a demissão de Vicente Moura, e horas mais tarde foi anunciado que não se recandidataria, mas acabou por ir a eleições e cumprir mais um mandato.
FUTURO: "Vou envolver-me no associativismo desportivo".
Vicente Moura quer colocar os conhecimentos adquiridos ao longo de mais de 16 anos no COP ao serviço do país, apesar de ainda não querer revelar de que forma.
"Vou envolver-me no associativismo desportivo a vários níveis, a seu tempo se saberá", disse, admitindo que fazer outras coisas: "Vou escrever, tenho convites para escrever coisas com alguma responsabilidade".
Recentemente integrou uma das listas candidatas aos órgãos sociais da Federação Portuguesa de Natação, concorrendo a presidente da Mesa da Assembleia Geral, mas o elenco liderado por Paulo Frischknecht foi derrotado.