O cinema ainda é capaz de falar do Holocausto, sim. Mostrando-o sem mostrar, evocando-o sem sucumbir às imagens do horror. É dessa circunspeção que nasce um filme como Treblinka (que não se deixa classificar facilmente), no rasto da memória dos sobreviventes. Documentário? Ensaio? Está a meio caminho entre as duas coisas. Sérgio Tréfaut toma aqui as palavras do judeu polaco Chil Rajcham (1914-2004), no livro Je Suis Le Dernier Juif, como alicerces de uma paisagem humana em construção. Esses relatos, ao convocarem o passado, enchem as carruagens de um comboio de espectros: corpos nus que fixam a vulnerabilidade de quem fez a viagem até ao fim, até ao campo de extermínio.
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O presente é, pois, o movimento do comboio, que continua a fazer o inexorável percurso - Ucrânia, Rússia, Polónia - colando-se-nos à pele como um subtil entorpecimento.
Classificação: *** (bom)