Se o rali Dakar é imprevisível e fértil em reviravoltas, como se viu ontem, resta uma certeza para a edição de 2017: há via aberta para um vencedor inédito entre os motociclistas (enquanto a Honda segue lançada para quebrar o longo domínio da KTM). O australiano Toby Price, campeão de 2016, foi a principal vítima da 4.ª etapa da mítica prova de todo-o-terreno: caiu, fraturou o fémur da perna esquerda e teve de abandonar. Paulo Gonçalves (Honda), que já estava a perder terreno, atrasou-se mais ao prestar-lhe auxílio: tombou para 6.º, depois de compensado pelo tempo perdido. Com tudo isso, o espanhol Joan Barreda (Honda) destacou-se na liderança..O percurso de 521 quilómetros (416 cronometrados), entre San Salvador de Jujuy (Argentina) e Tupiza (Bolívia) confirmou toda a dureza que se previa para a 4.ª etapa, com dunas, altitude acima dos 3000 metros e muitas exigências em termos físicos. O choque foi tal que deixou a prova de duas rodas órfã do único dos seus antigos vencedores que estava em competição. Toby Price, o homem que prolongou o reinado da KTM, após as saídas de Cyril Despres (virou-se para os automóveis) e Marc Coma (tornou-se diretor da corrida), caiu quando discutia a vitória na etapa com Barreda..O australiano, de 29 anos, corria sobre brasas, depois de na véspera ter cedido mais de 22 minutos e o 1.º lugar para Barreda (devido a problemas de navegação). Começou por perder tempo para o espanhol mas já tinha chegado à liderança da etapa, à passagem do 10.º ponto de controlo, quando caiu da mota, ao atravessar um curso de água a alta velocidade. Logo assistido pela equipa médica e diagnosticado com uma fratura no fémur, Price foi levado de helicóptero para o hospital mais próximo..Alheio a isso, Joan Barreda seguiu ainda mais destacado na frente. O espanhol só foi ultrapassado nos quilómetros finais pelo austríaco Matthias Walkner (KTM) - eventualmente, porque preferiu abdicar da vitória da etapa para não ter de "abrir a estrada" na tirada de hoje. Walkner triunfou com 2.02 minutos de vantagem sobre Barreda e 5.28 sobre o francês Xavier de Soultrait (Yamaha)..O espanhol foi mesmo o principal beneficiado destas peripécias: ganhou bastantes minutos àqueles que eram os seus perguidores mais diretos na classificação geral, o britânico Sam Sunderland (13.º na etapa, a 16.18 minutos de Walkner) e o luso Paulo Gonçalves (11.º, a 14.56)..Na verdade, Speedy Gonçalves voltou a distinguir-se pelo fair-play - a exemplo do que acontecera no ano passado, quando era líder da prova e parou para assistir Matthias Walkner. O piloto de Esposende, que já seguia a quase 15 minutos de distância dos líderes da etapa, travou para prestar auxílio a Toby Price. "Parei para ajudar e esperei que viesse o helicóptero. As corridas são muito mais do que resultados quando estão em risco as nossas vidas", afirmou, no final..O atraso suplementar custou-lhe a queda provisória para o 12.º lugar da geral mas acabou por ser compensado pela organização, que lhe descontou os cerca de 12 minutos em que esteve parado. Quanto Hélder Rodrigues (Yamaha), o outro português que se apresenta como candidato a um lugar no pódio, continua a recuperar posições: ontem foi 14.º na etapa (a 24.31 minutos de Walkner) e galgou nove lugares, para o 15.º da geral..Despres chega-se à frente.Nos automóveis, a etapa foi igualmente intensa e agitada. Os três Peugeot, de Sébastien Loeb, Carlos Sainz e Stephane Peterhansel, que encabeçavam a classificação, tiveram problemas. Quem lucrou com isso foi outro piloto da marca francesa, o também gaulês Cyril Despres, que venceu a etapa e passou para a liderança da geral, agora com 4.08 minutos de avanço sobre Peterhansel e 5.04 sobre o finlandês Mikko Hirvonen (Mini).