Veteranos, novatos e Lázaro que perdeu o pai numa mina. Os oito homens que arriscaram por Julen

Lázaro Gutiérrez é filho de um português que perdeu a vida numa mina. Sérgio Tuñón sobreviveu a este acidente em 1995. Integram agora a Brigada de Salvamento Mineira, responsável por retirar o corpo da criança de dois anos do poço onde caiu a 13 de janeiro.
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Assistiram a várias tragédias, perderam familiares e concluíram grandes missões de salvamento. As operações começaram com o apoio de mais de 300 técnicos, mas foi a equipa de mineiros quem finalizou a missão e chegou ao corpo da criança de dois anos que tinha caído a um poço com mais de 100 metros num terreno em Totalán, Málaga. Quase sem descanso, terra abaixo, oito elementos da Brigada de Salvamento Mineira trabalharam para resgatar o pequeno Julen.

São capazes de viver quatro horas quase sem oxigénio e escavar debaixo de terra ao mesmo tempo que carregam um equipamento de 15 quilos. Os oito mineiros ficaram conhecidos como os heróis do resgate, mas a tarefa não foi fácil.

Apesar das primeiras previsões das autoridades, que indicavam que se chegaria à criança num menor espaço de tempo, as operações acabariam por durar 13 longos dias, no que o representante do Governo de Andaluzia caracterizou de uma missão "urgente", mas concretizada "com delicadeza". As dificuldades encontradas no terreno, pelo aparecimento de saliências rochosas no túnel, obrigou ao atraso das escavações, passando a ser feitas manualmente nos últimos quatro metros da cavidade horizontal.

Foi Sergio Tuñón o responsável por coordenar os trabalhos no terreno, como diretor técnico da brigada desde 2012. Foi líder de equipas em inúmeros resgates mineiros.

Ao lado dele, estava Antonio Ortega, engenheiro técnico. É filho de um especialista da Direção geral de Minas e é uma aquisição recente na brigada, para onde entrou há cerca de um ano.

Outros seis técnicos completam a equipa. Um deles é Lázaro Alves Gutiérrez, filho de um português. Eduardo Augusto Alves, seu pai e residente em Gijón, morreria num acidente numa mina onde trabalhava, nas Astúrias, a 31 de agosto de 1995. Uma fuga de gás estaria na origem de uma explosão que provocou a morte a 14 dos 63 mineiros ali presentes - entre eles o seu atual diretor técnico, Sergio Tuñón. Lázaro tinha apenas 10 anos, mas fez da sua tragédia a motivação para mais tarde entrar na Brigada de Salvação como mineiro e 24 anos depois integrar a equipa que arriscou na complexa missão de resgate de Julen.

Também Maudillo Suárez e Jesús Fernández Prado, com uma década de experiência na equipa mineira, se tornaram um dos protagonistas deste drama. Entre outras missões, o veterano Maudillo participou no resgate do espeleólogo basco José Gambino, que ficou preso numa gruta em Arañaga, em junho de 2017.

José Antonio Huerta, Rubén García Ares e Adrián Villaroel são aquisições recentes da equipa técnica. Até 2009, José trabalhava na empresa Coto Minero Joven.

Contudo, o trabalho destes mineiros pode ter os dias contados. O encerramento de 99% das minas espanholas e um tempo condenado pelo carvão polaco (mais barato e fácil de extrair do que o espanhol) deixa em risco a existência da Brigada de Salvamento Mineira, criada em 1912.

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