O piloto belga Jan van Risseghem pode ter sido o responsável pela morte do secretário-geral das Nações Unidas Dag Hammarskjöld num misterioso acidente de avião ocorrido no sul de África em 1961, alega o documentário Cold Case Hammarskjöld, realizado por Mads Brügger e que se vai estrear no próximo festival de Sundance..De acordo com o jornal The Guardian , os responsáveis pelo documentário conseguiram novos testemunhos que parecem relacionar o veterano da RAF (Royal Air Force, a Força Aérea britânica) com este incidente que, até hoje, continua a ser investigado pela ONU..O nome de Jan van Risseghem já tinha sido avançado antes, mas até agora havia apenas suspeitas não confirmadas. Além disso, Risseghem sempre foi identificado simplesmente como piloto. Mas o documentário revela que, embora o seu pai fosse belga, não só a sua mãe era britânica como ele próprio foi treinado na RAF e foi condecorado pelo sua prestação na Segunda Guerra Mundial..O piloto morava na Bélgica mas no início da Segunda Guerra Mundial conseguiu escapar à Europa ocupada e foi para Inglaterra onde treinou com a RAF e participou em missões aéreas de ataque a posições nazis. Foi nesta altura que conheceu a sua mulher, que era britânica. No final da guerra, o casal voltou à Bélgica mas em 1961 Van Risseghem estava no Congo, onde trabalhava como piloto mercenário para os rebeldes separatistas que tinham declarado a independência da província de Katanga. Foi então que, segundo o documentário, recebeu ordens para abater o avião em que viajava Hammarskjöld..No acidente de 18 de setembro de 1961 morreram mais 15 pessoas. Apesar de o nome de Van Risseghem já ter sido apresentado como suspeito, nunca foi possível provar que foi ele o responsável pela queda do avião, uma vez que nos registos de voo ele aparece de licença, só voltando a voar a 20 de setembro. No entanto, outro piloto mercenário que estava na região, Roger Bracco, diz no documentário que os registos de voo de Van Risseghem foram alterados. E um outro amigo, Pierre Coppen, diz que em 1965 Van Risseghem lhe confessou ter abatido o avião mas não sabia na altura quem eram os passageiros: "Ele disse: cumpri a missão, só isso.".No livro Une vie à tire-d'aile , o diplomata francês Claude de Kémoularia já tinha defendido a tese de que o avião do DC-6 tinha sido abatido por mercenários belgas no Congo. Independente desde 1960, o Congo, antiga colónia belga, viu-se confrontada com uma rebelião secessionista na província do Katanga, junto à Zâmbia. Ao visitar o Congo, Hammarskjold queria reunir-se com Moise Tshombé, o líder dos rebeldes apoiados pelos mercenários belgas..Kémoularia diz ter conhecido em Paris, em 1967, dois mercenários belgas do Katanga, na mesma altura em que foi apresentado a um piloto chamado Beukels, que dizia ter abatido o avião de Hammarskjold. Segundo esta versão, dois aviões dos rebeldes tentaram interceptar o DC-6 de Hammarskjold para o obrigar a aterrar na sua base de Kamina. Os líderes dos mercenários queriam negociar diretamente com o secretário-geral da ONU. Beukels disparou uma salva de aviso que atingiu o aparelho, levando à sua queda..Van Risseghem morreu em 2007. Os seus familiares, incluindo a viúva, continuam a afirmar que ele não tem nada a ver com o a morte de Hammarskjöld, e a verdade é que ele nunca interrogado pelas autoridades sobre este caso. A única vez que falou publicamente sobre o acidente, numa entrevista, reafirmou que não estava no sul de África na altura e disse que a ideia de um ataque era "um conto de fadas".