"Vergonhoso", "irresponsável", "perigoso". Tony Blair e John Major arrasam projeto de Boris Johnson

Os ex-primeiros-ministros britânicos Tony Blair e John Major pediram aos deputados que rejeitassem o que descrevem como "vergonhoso" projeto de lei para modificar o acordo do 'Brexit', e consideram a atitude de Boris Johnson "irresponsável", "errada" e "perigosa".
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O primeiro-ministro do Governo britânico, Boris Johnson, apresentou na Câmara dos Comuns a chamada Lei do Mercado Interno, cuja intenção é, caso seja aprovada, poder modificar alguns dos compromissos assumidos no acordo de retirada celebrado com a União Europeia (UE) em 2019 e que deu lugar ao 'Brexit' em 31 de janeiro.

O projeto, que será debatido na segunda-feira na Câmara dos Comuns, tem incomodado políticos britânicos e responsáveis da União Europeia, especialmente porque visa modificar o mecanismo projetado para evitar o aumento de uma fronteira física entre as duas Irlandas, com o objetivo de preservar a paz na Irlanda do Norte, caso os dois lados não consigam chegar a um acordo comercial ainda este ano.

Nas páginas do Sunday Times, Tony Blair (partido trabalhista) e John Major (partido conservador) criticaram a atitude do Governo conservador de Boris Johnson, considerando que o texto legislativo "levanta questões que vão além do impacto na Irlanda, o processo de paz e as negociações de um acordo comercial (com a UE)", e defendem que a atitude do Governo "embaraça" o Reino Unido.

O Governo britânico apresentou, na quarta-feira, no parlamento um projeto de lei do mercado interno que lhe dá a capacidade de tomar decisões unilaterais sobre questões relativas ao comércio com a província da Irlanda do Norte, texto que contradiz em parte o acordo enquadrado na saída da União Europeia.

A ministra da Justiça irlandesa, Helen McEntee, refutou este domingo as acusações do líder britânico Boris Johnson de que a União Europeia (UE) estava a ameaçar um bloqueio à Irlanda do Norte, após uma semana tensa entre Londres e Bruxelas.

"Simplesmente não é o caso", reagiu Helen McEntee à Sky News sobre as discussões em torno de um acordo pós-'Brexit' que aumentaram esta semana, afirmando que "quaisquer insinuações de que isso criará uma fronteira são simplesmente falsas".

Numa coluna publicada no sábado no jornal britânico Daily Telegraph, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu a sua intenção de reverter em parte o acordo do 'Brexit', argumentando que foi forçado a fazê-lo face à "ameaça" de a UE instaurar um "bloqueio" à Irlanda do Norte, por uma "interpretação extrema" do texto, impedindo a entrada de produtos alimentares no Reino Unido.

"Devo dizer que nunca acreditámos seriamente que a UE seria capaz de usar um tratado, negociado de boa fé, para instaurar um bloqueio a parte do Reino Unido, ou que eles ameaçariam destruir a integridade económica e territorial do Reino Unido", escreveu Boris Johnson no artigo do jornal.

Helen McEntee lembrou que as disposições da Irlanda do Norte no tratado que codificam a retirada do Reino Unido da UE foram aceites pelas duas partes, a fim de garantir uma concorrência justa após o 'Brexit'.

Eles também querem evitar o retorno de uma fronteira física com a ilha da Irlanda, que afetada por três décadas de um conflito, até à assinatura do acordo de paz da Sexta-feira Santa, em 1998.

O tratado "garante igualmente a integridade da Irlanda do Norte como parte integrante do Reino Unido", disse a ministra da Justiça irlandesa, que, acrescentou, "garante que nenhuma fronteira irá reaparecer".

[Corrigido lapso sobre o nome do parlamento britânico]

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