Veredicto favorável para Seabra é o internamento
Na sua alegação final, que durou três horas e um quarto, o advogado David Touger reconheceu que "é difícil" os jurados chegarem a um veredicto de que Seabra não é responsável pela morte de Castro devido a problemas metais, mas procurou tranquilizá-los quanto às consequências.
"Determinando que não é responsável por razão de doença ou insuficiência mental não estão a deixar Renato sair em liberdade de qualquer forma, não estão a pô-lo na rua e provavelmente será institucionalizado para o resto da vida", disse Touger.
"O que estão a dizer com esse veredicto é que Renato era um jovem muito doente quando cometeu estes atos hediondos. Como as sociedades civilizadas compreenderam há séculos, uma pessoa que sofre de doença mental ou psicose que as força a fazer coisas que nunca pensariam em fazer não merece ser tratada da mesma maneira que alguém que intencionalmente decidiu matar alguém", adiantou.
Os 12 jurados, 6 homens e 6 mulheres, seguiram a longa intervenção com atenção, mas pelo menos dois dormiram durante algumas partes.
Com o réu novamente ausente da sala, recusando-se a comparecer às últimas sessões, Touger procurou isolar o testemunho do neuropsiquiatra contratado pela acusação, William Barr, que considerou Seabra criminalmente responsável e "fabricado" o relato do jovem, para fugir à condenação.
Esta posição contraria o diagnóstico dos especialistas que trouxe a tribunal e os que o examinaram em 3 hospitais, que não detetaram qualquer sinal de fingimento de sintomas.
Chegando a qualificar Barr de "porta-voz da Procuradoria" por apoiar esta tese em "98 por cento" das vezes que testemunha em tribunal, Touger leu em voz alta no tribunal o nome de cada um dos 16 médicos que diagnosticou um problema mental a Seabra, desordem bipolar, que resulta em episódios maníacos e surtos psicóticos.
"A única pessoa que concorda com a tese da procuradoria", adiantou, "é aquela que é paga por eles", disse Touger.
A acusação defende que Seabra estava consciente e que, a haver psicose conforme diagnosticado, esta terá sido desencadeada pelo crime em si.
Afirma ainda que o jovem terá exagerado e fingido sintomas para se declarar em tribunal não culpado por razão de insanidade mental.
Tentando vincar a fiabilidade do testemunho de Seabra, que disse ter cometido o crime a mando "de Deus", Touger salientou que os experientes detetives que lhe extraíram a confissão consideraram as afirmações verídicas.
Apontou também como indicação do seu estado psicótico a brutalidade do homicídio, das mutilações do corpo da vítima, incluindo nos órgãos genitais, e o comportamento da vítima depois do crime, não fugindo mas indo para um hospital.
Para ilustrar a brutalidade de Seabra durante o crime, depois de sufocar a vítima, Touger dramatizou os atos do homicida, usando perante os jurados as armas do crime - ténis, um monitor de televisão e um saca-rolhas.
"Isto é de um namorado enraivecido?", questionou Touger incrédulo, aludindo à tese da acusação.
A procuradora Maxine Rosenthal irá expor esta tarde, por volta das 20:30 de Lisboa, os seus argumentos finais aos jurados, que irão entrar em período de deliberação na quinta-feira.
Depois de comunicado o veredicto ao tribunal, e caso Seabra seja considerado culpado, caberá ao juiz ditar a sentença de homicídio em segundo grau, que pode ir de 15 anos a prisão perpétua.