Velha tentação do petróleo como arma política

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Se há países que sabem usar o petróleo como arma política são os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, mais conhecida da opinião pública pela sigla OPEP. Ficou célebre o modo como reagiram à guerra do Yom Kippur em Outubro de 1973, cortando o abastecimento ao mundo ocidental - sobretudo os Estados Unidos, pelo fornecimento de armas a Israel no conflito com os países árabes - e afectando de imediato tanto empresas como particulares, com os combustíveis a verem o seu preço multiplicar-se várias vezes.

Agora, as preocupações são claramente mais económicas, como aconteceu durante a reunião de há dois dias da OPEP em Viena, em que a organização decidiu cortar a sua produção em 1,5 milhões de barris diários, num esforço deliberado para forçar nova subida da cotação do crude.

O barril chegou a ser vendido a quase 150 dólares durante o Verão, mas no final da semana passada estava a ser transaccionado a 65 dólares, o que preocupa seriamente vários dos 13 Estados membros da OPEP, que se habituaram nos últimos anos a ter os cofres recheados e que não estavam à espera da quebra no consumo devido à actual crise económica que afecta todo o mundo industrializado, mas sobre os Estados Unidos e a Europa Ocidental.

Uma vez mais foi a Arábia Saudita, principal produtor mundial e líder de facto da OPEP, a desempenhar o papel de moderador. Os sauditas, geopoliticamente ligados aos Estados Unidos (seus protectores militares, como bem se viu na guerra do Golfo de 1991), são os mais conscientes de que uma subida neste momento do preço do petróleo pode levar o planeta a entrar em recessão e isso voltar-se-ia sem grandes demoras contra os próprios países produtores de crude.

Mas Líbia, Irão e Venezuela mostraram de novo serem os falcões da OPEP, defendendo a redução da produção diária de barris como forma de subir os preços. É uma questão de necessidade económica, pois são países que têm escassas fontes alternativas de divisas, mas é também um agudo problema de sobrevivência política dos regimes.

As políticas populistas de Mahmud Ahmedinejad, no Irão, e de Hugo Chávez, na Venezuela, (e de certa forma também de Muammar Kadhafi, na Líbia) têm tido um certo sucesso assente nos elevados rendimentos petrolíferos recentes. Mas com o petróleo a ser comercializado na fasquia dos 60/70 dólares, muitas das suas políticas sociais correm sérios riscos e são essas que lhes garantem muitos apoios internos.

Por isso a vantagem teórica de ser membro de um cartel como a OPEP, capaz de uma pressão muito superior à de cada um dos países. E que faz com que desde a sua fundação em Bagdad, em 1960, por quatro países islâmicos e ainda a Venezuela, a organização hoje sedeada na capital austríaca tenha já recebido vários novos membros, incluindo Angola, que rivaliza já com Nigéria e Líbia como primeiro produtor petrolífero de África.

A tradicional força negocial da OPEP levou, aliás, esta semana ao primeiro passo para a criação de uma espécie de organização dos Países Exportadores de Gás, formada pela Rússia, pelo Irão e pelo Qatar. Conjuntamente, estes três países possuem 60% das reservas mundiais de gás natural, enquanto ao nível do petróle, a OPEP controla cerca de três quartos das reservas, mas 40% das exportações.

De fora da OPEP estão alguns grandes produtores, como os Estados Unidos, a Rússia, o Brasil e a Noruega. Esta última assegurou já que não irá reduzir a sua produção diária de barris.

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