"Vejo uma unanimidade sobre a Ucrânia sem uma reflexão como seria a da Sontag"

Chega hoje às livrarias a tradução da <strong>biografia de Susan Sontag</strong> que valeu o prémio Pulitzer de 2020 a Benjamin Moser. A consulta de diários e documentação inédita durante sete anos, bem como um conjunto de entrevistas a mais de quinhentos amigos e conhecidos, rivais, namoradas e namorados, permite conhecer <strong>a mais intimidante intelectual do século XX dos Estados Unidos</strong> como até antes não fora possível.
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De Benjamin Moser conhecia-se em edição portuguesa a anterior biografia sobre Clarice Lispector. Agora, ao longo de 687 páginas, pode-se mergulhar no ícone Sontag e descobrir todos os pés de barro e momentos eloquentes de um monumento ao pensamento que dezassete anos após a sua morte é revelado na impressionante - e psicológica - biografia sobre a escritora, cineasta, crítica e ensaísta, que provocou e esclareceu o mundo durante décadas através de posições frontais que eram a sua imagem de marca, além da mecha branca que se destacava num cabelo escuro e que o biógrafo, finalmente, desvenda a origem.

Não pode dizer-se que se está perante uma biografia - ou uma anti-biografia - que desconstrua Sontag, no entanto não se a olhará como antes. Se o mundo mudou bastante desde que publicou em 1964 o seu passaporte para a polémica, Notes on Camp, o retrato que este volume imprime numa espécie de cronologia simulada mostra a formação e desinibe uma sexualidade como motor irreversível da sua vida total, mostra as mentiras dos seus diários. Com a leitura desta biografia ninguém poderá afirmar, como muitos dos da sua roda nova-iorquina, que há muitas coisas sobre Sontag que desconhecia. A única hesitação do biógrafo tem a ver com a hesitação em tratá-la como Susan ou Sontag, de resto está tudo neste livro.

Antes de avançar sobre a biografia de Susan Sontag, voltemos à de Clarice Lispector... que era ucraniana e naturalizada brasileira. Têm-se lembrado dela neste tempo trágico da invasão russa?

Muito, não consigo pensar noutra coisa. Eu contei nessa biografia de Clarice Lispector toda a história dos refugiados ucranianos que chegaram ao Brasil exatamente há cem anos, em 1922. Eles fugiram como todos os que estão a partir hoje mas nunca esqueceram a Ucrânia nem uma história que lhes é roubada sucessivamente. Vejo que há muita desinformação no Brasil sobre esta guerra e que muitos brasileiros chamam os ucranianos de nazis. Creio que em Portugal deve ser diferente.

Recorde a razão de ter sido escolhido pela família para escrever Sontag - Vida e Obra e porque, existindo várias biografias sobre Susan, quiseram mais uma?

Existia muito espólio no arquivo na Califórnia que ainda não tinha sido utilizado por terem decidido guardá-la para mim - ou melhor dizendo, para um biógrafo a quem dessem autorização - e esse material permitia um olhar muito diferente sobre a pessoa mais influente na cultura americana do século XX e que continua a ser ainda hoje. Infelizmente é uma realidade essa sua referência, além de continuar a ser um discurso muito atual tudo o que escreveu sobre a violência da guerra e como se observa a realidade que nos chega através de imagens. Por essa razão, queriam alguém que, a partir desse arquivo, conversasse com as pessoas que pudessem ajudar a interpretar a biografada. Como eu sou desse mundo cultural de Nova Iorque e conheço muita gente, caiu sobre mim a escolha.

O ter sido publicado num tempo em que Trump governava foi uma boa oportunidade para mostrar que existira nos Estados Unidos uma intelectual que não se proibia de ter uma opinião?

O problema da América não é o de as pessoas não terem opiniões, pelo contrário todos têm uma opinião. No meu estado, o Texas onde nasci, a opinião é como o rabo, todos têm; o que não existe hoje a sobrepor-se a todo o ruído que ouvimos são convicções e isso faz muita diferença. Alguém que defenda opiniões contrárias às dos outros, porque é muito fácil defender uma opinião que é geral e partilhada. Como o que está a acontecer agora com a Ucrânia - sou completamente contra a invasão -, em que o que vejo é uma unanimidade na Europa e nos Estados Unidos sem uma reflexão como seria a da Sontag. Não que ela soubesse tudo, mas não estava presa às ferramentas mentais normais para se terem opiniões boas e fundadas - aquilo que não existe hoje. Qualquer um grita no Twitter e sem o fundamento que ela demonstrava possuir, daí que o seu pensamento fosse um convite para se ser um pouco mais inteligente em vez de entrar na onda do que as pessoas já estão a falar e de querer encontrar outras perspetivas. Esta biografia foi publicada na época de Trump, num momento em que havia muita gritaria e pouca compreensão para o facto de ter existido Trump. É muito fácil não gostar dele - mesmo que metade da população goste -, daí que quando penso nela sinta pena de que não tivéssemos mais longe, como Sontag, e que nos afastássemos do dia a dia e enfrentássemos as grandes questões.

Foi necessário encaixar esta mulher no seu contexto ou não precisava?

Precisava e muito. Enquanto estava no arquivo de Los Angeles dava um curso de Literatura Brasileira para estudantes de pós-graduação e quando um dia falei sobre a guerra da Bósnia descobri que eles a desconheciam. Primeiro senti-me como um bisavô, pois eles ainda mal tinham nascido naquela época que para mim é recente. Como o meu livro sobre Sontag começa no final da Grande Guerra, quando surge uma nova indústria no sul da Califórnia, a que se chamou de Hollywood, tive necessidade de dar esse contexto para se entender o que era o mundo - o comunismo, a sexualidade e a homossexualidade, os próprios EUA - porque o tempo mudou bastante. Nem a definição do que é uma mulher é a mesma de há umas décadas. Tudo se alterou e por essa razão uma biografia é a oportunidade para ir mais fundo numa contextualização que achamos que existe mas não.

Todas as biografias são uma invenção?

Claro que são. É uma ficção sobre o que está feito, como uma nova fotografia. Não quer dizer que os factos relatados antes não sejam verídicos, mas a nova maneira de os colocar torna-os diferentes. Como uma fotografia, repito, em que se acha que está a ver a pessoa mas quando for feita por outro fotógrafo mostrará outra pessoa.

Não teve medo em fazer de Sontag uma mercadoria?

Não, mas gostei de escrever sobre esse processo de como alguém feito de sangue, ossos e cabelo, se transforma num produto. Esse era, aliás, um dos seus grandes temas: o de como uma pessoa se torna numa coisa, a desumanização. Ainda hoje encontramos muita gente que quer essa situação, que explico com uma história muito doida: eu estava em Los Angeles com um editor de televisão que faz programas com debates e ele disse-me que alguns dos presentes não se importavam de se humilharem para aparecerem no ecrã perante milhões de espetadores que assistem à exibição da sua estupidez, e o que mais o chocava naquele projeto era que sabia que 100% deles voltariam por mais humilhados que tivessem sido, tanto é o desejo do ser humano em ser famoso. Esse foi um processo pelo qual Sontag passou, e ela entendia o apelo e a sedução de ser uma celebridade, de ser rica, famosa e desejada, ou odiada também, mas ao mesmo tempo tinha receio sobre o resultado da exposição e da erosão da privacidade. Por isso escreve tão bem sobre esses assuntos, situação que se observa até na ambiguidade existente em muitos dos seus livros.

Aquela mancha branca no cabelo dela, feita já mulher madura, também ajudou a criar uma imagem planetária icónica!

Sim, hoje chama-se àquilo uma marca [brand]. Um dos meus grandes triunfos de biógrafo foi localizar o cabeleireiro que lhe fez essa mancha branca no Havai. Ninguém deu muito valor a esse achado, que foi muito difícil, mas a história é simples: ela estava com o cabelo branco e o cabeleireiro sugeriu deixar uma mancha não pintada - ela não se importava muita com o visual - e foi tão enorme o sucesso desse penteado que virou um adereço do programa Saturday Night Live, um show que todos os americanos assistem, que tinha uma peruca com essa mecha branca de cabelo. Nos EUA não existe mais nenhum intelectual que tenha esse destaque num programa de sucesso, nem vai existir mais. Essa fama deu-lhe muitas vantagens, como escrevo no livro, e muitos perigos também.

Quando se confrontou com a imagem de Sontag ao iniciar a biografia receou o passo que ia dar ou tornou-se num desafio que seria capaz de ultrapassar?

Eu não sou tolo a esse ponto... sei exatamente como a Susan é um campo de minas porque existem muitos e muitas rivais, namoradas ressentidas, bem como um divórcio muito forte entre o filho e a viúva (Annie Leibowitz), ou seja, sabia bem no que me estava a meter. Talvez não o suficiente no caso da Susan privada e a da figura pública, que foi para mim o facto mais espantoso e ao mesmo tempo uma matéria muito importante para um biógrafo. Ela ainda era uma figura que necessitava de muita explicação.

Refere no livro que "muitos que se depararam com a mulher de carne e osso ficaram despontados". Isso aconteceu-lhe?

Não, eu gostava dela pelo que era - louca, bruta, monstruosa - e achava-a maravilhosa. E deu-me muito porque as pessoas que entrevistei, os livros que li, foram uma experiência ótima. Por exemplo, ela tem num diário uma lista dos cinquenta melhores filmes segundo ela e eu só vira três deles. Então, fui ver todos os outros. Posso dizer que já li um livro e vi um filme na minha vida, mas nem sequer dois por cento do que ela conhecia. Portanto, desapontar nunca! Sei que muitos ficaram dececionados ao lerem o meu livro, por causa do que ela fez num ou noutro momento, mas essa não era a minha intenção. Eu só queria descrever um ser humano fora do normal em todos os sentidos.

Gostando dela, sentiu necessidade de a proteger?

Sim, muito. Há momentos em que ela faz coisas horríveis e sei o que vai acontecer depois. É uma situação injusta para o biógrafo saber o próximo passo da sua vida e, por exemplo em muitos dos relacionamentos, saber de antemão que não tinham dado certo. Sabia que esses fracassos amorosos a iam deixar mal por vários anos, mas é como quando escrevi sobre a violência na Ucrânia há cem anos, pois sabia também o que aconteceu às pessoas então. Tenho a impressão de que as minhas duas biografadas são esposas que eu quero proteger e que não posso; a vida delas foi a que foi e não se pode voltar atrás.

De certo modo, após esta biografia, podia-se definir Sontag como uma predadora sexual tantos são os seus parceiros!

Predadora acho que não, mas apaixonava-se muito e bastante rápido. Ela ficou noiva de um homem [Philip Rieff] que tinha conhecido uma semana antes e foi um desastre. Era normal envolver-se nessas paixões de uma forma avassaladora e a paixão nunca é coisa boa, pois pode ser fácil ao nível sexual mas no resto não. Eu gosto daquela metáfora grega da Helena de Troia cuja beleza fez morrer tantos milhares de pessoas. Sem ser muito dramático, no caso dela era impossível travar a paixão. E isso trouxe-lhe muitos custos. Contudo, essa paixão no que respeita aos livros, ao teatro ou à música, foi o que fez dela alguém tão empolgante. Eu sei por experiência própria que a paixão nunca é uma coisa boa mas um desastre. Já me apaixonei e nunca foi bom.

Se a sexualidade de Sontag está constantemente presente o mesmo se verifica com o alcoolismo da mãe. Sentiu uma rivalidade entre essas duas componentes ao escrever esta biografia?

É relacionada sim. Uma grande escritora americana lésbica explicou-me como funciona essa situação nas lésbicas; que muitas foram enquanto jovens apaixonadas pela mãe ausente e com cujo amor não podiam contar. Não vou dizer que essa explicação está certa, mas no caso da Susan essa mãe alcoólica que estava sempre a desaparecer - foi para China e deixou a Susan com a empregada, foi para a Europa e fez o mesmo -, deixa muito claro que ela estava sempre com uma saudade muito profunda de uma mulher que tomasse conta dela e a amasse. É uma especulação, aviso...

A própria Sontag fará o mesmo com o filho.

É verdade, e isso é exatamente o que acontece com quem tem alguma dependência. Eu tenho a mesma história na minha família, com várias gerações de droga e álcool - graças a Deus, eu escapei -, e há uma tendência para repetir os erros, e talvez os acertos, dos pais. No caso dela, foi muito óbvio. Muitas pessoas da sua geração com quem falei, feministas por exemplo, acharam muito estranho que ela deixasse o filho de quatro anos e tivesse viajado para a Europa durante um ano. Muitas destas pessoas não a queriam criticar, apenas consideravam estranho que ela o tivesse feito.

O facto de não ter assumido a homossexualidade ou de ser uma feminista ativa dificultou a aceitação deste livro em tempo do Me Too?

Não tive problemas com a aceitação do livro, mas sim com o aceitar desta Sontag. Hoje em dia deseja-se uma mulher forte, que não é a mãe que fica a tomar conta da casa ou permanece anónima, e sim uma mulher poderosa. Eu percebi, ou melhor, senti que havia muita gente que não queria uma mulher heroína, queria que fosse um ícone, a estátua, e ela em certos aspetos não era. Tinha muitas falhas, como nos seus livros de ficção, de que todos gostam de dizer mal. Para mim, isso faz parte de um processo porque as coisas boas vêm em muito das coisas más - com a Clarice foi igual - e um fracasso pode muito ser o princípio de um sucesso.

Há quem não goste de O Amante do Vulcão, mas é um livro muito bom.

Eu também gosto muito e defendo sempre esse romance. Creio que muita gente diz mal da ficção dela - coisa que nunca teriam feito se ela estivesse viva - porque é uma forma de se apropriarem dela - mas é mesquinho.

Uma vingança?

Exatamente. Há muitas pessoas que ficaram intimidadas por ela e hoje existe muita gente que se vinga dela com esse tipo de observação.

A namorada Harriet pode ser incluída nesse "lote" quando refere situações que não se imaginam em Sontag, como quando diz que ela não tinha uma opinião formada sobre muitas coisas em jovem e que a seguia?

Sim, a Sontag dessas declarações era muito jovem e não sabia tudo. Estava a aprender sexual e intelectualmente um novo mundo, mas a Susan também tinha esse lado de querer um mestre. Cresceu indo de cidade em cidade, sem pai ou mãe, e ficou grata a pessoas que a instruíssem - era a melhor estudante do mundo. Todos nós fazemos o mesmo em certos períodos da nossa vida ao conhecer pessoas que sabem mais.

Tem outro depoimento, de Judith Spink, que refere "não vimos as fragilidades dela".

Ninguém percebia a Susan jovem, tímida e insegura, que está nos diários inéditos que consultei. Realmente, até pessoas que a conheciam bem, nunca tiveram ideia desse seu lado. Esse foi um privilégio meu, que decorreu da investigação sobre um outro lado dela.

A partir de que altura Sontag deixou de precisar de um mestre ou isso nunca aconteceu?

Talvez Joseph Brodsky tenha sido o último e já no final da vida dela. Quando ele morreu, ela perdeu o norte e uma pessoa que a orientasse, e vê-se a sua personalidade e a saúde decaírem a partir daí - esta é uma especulação porque não tenho a certeza -, e ela morre poucos anos depois.

Falando de especulações, a parte desta biografia que gerou mais polémica foi a sua afirmação sobre o livro Freud: The Mind of the Moralist ser de autoria de Sontag e não do ex-marido Philip Rieff. Porquê?

Houve uma pessoa que fez essa crítica, é verdade. No entanto, esse livro tem até hoje o nome de Rieff na capa, mesmo que tenha confessado antes de morrer numa dedicatória que Sontag era coautora. Então, no mínimo, foi uma colaboração e toda a gente o soube durante seis décadas, porque Susan falava disso em particular. Em Nova Iorque não era segredo, era como dizer que Fernando Pessoa era gay em Lisboa, algo bem pouco secreto. Admirou-me que achassem isso tão interessante, até porque muitas mulheres da geração dela disseram-me "ser ridículo, porque todas nós fizemos isso, toda a mulher de professor ou de jornalista, não era estranho". Aliás, como cito, ela própria estava muito animada nessa ajuda e antes, quando o conhece, faz resenhas de livros que ele publica com o seu nome e Susan achava isso fantástico. Era outra época.

Pode dizer-se que tinha uma overdose de arquivos e de informação sobre Sontag. Qual foi a maior dificuldade para encontrar o rumo para a biografia?

Talvez o facto de existir esse problema entre o filho de Susan e Annie Leibowitz, porque tinha muita informação mas ela não queria falar comigo ao início - que foram cinco anos - e achei que o livro iria ficar desequilibrado sem a voz dela. Finalmente, Annie aceitou e foi muito cooperante, sendo que a partir daí considerei que podia começar a escrever. Uma vida tão grande dificulta muito o começar.

O que ficou por resolver?

Agora não sei dizer, mas quando publiquei o livro meu grande desejo era abrir uma porta para a obra dela, porque falei com quase seiscentas pessoas e percebi que muitas não a tinham lido bem. Todos mentiam e fingiam, mas o biógrafo sabe quem está a mentir, e muitos acabaram por confessar que não a tinham lido assim tanto - estou a falar dos americanos -, nem ela tinha vendido assim tantos livros no seu país. O meu desafio foi soprar um pouco de vida nessa figura morta.

Sentiu-se alguma vez demasiado seduzido pela biografada?

Foi uma sensação muito física e percebia-a quando sentia ser hora de parar. Não necessariamente no momento da escrita, mas na hora de reler e ser obrigado a dizer "calma". Susan é empolgante, um universo em que o exagero tanto no que é mau como no que é bom de pouco adianta. O biógrafo tem de ficar ao mesmo tempo apaixonado e um pouco afastado.

Lê-se que Sontag nem sempre era sincera nos diários...

É uma situação que desconheço a razão. É uma história muito estranha porque, no caso do encontro com Thomas Mann, ela vai conhecê-lo, anota tudo minuciosamente, mas trinta anos depois altera as horas e os factos. Perguntei-me o porquê e acabei por descobrir que se devia a metáforas sexuais suas! Mas ela mentia muito e essa situação torna-se um desafio, pois a pessoa não mente sobre tudo, e o que entendi é que muitas dessas mentiras tinham a ver com a sexualidade.

Encontrou algum paralelo entre Clarice e Sontag nestas biografias?

Muita gente pensou no que as tornava parecidas: mulheres, judias, escritoras, da mesma geração quase... mas o que me chamou à atenção foi a relação entre a palavra, a metáfora e a realidade. É uma diferença como entre a maçã e a palavra m a ç ã, que perpassa ambas as autoras e de uma forma fascinante no que respeita às obras, embora sejam cabeças totalmente diferentes. A Clarice é sensação, a Susan é cabeça e corpo. Acabei por descobrir que ambas as biografias tinham como tema a metáfora e quanto mais mergulhava nestes trabalhos mais achava que deveria voltar à universidade para estudar Filosofia.

Sontag nunca regressa à terra onde cresceu, Tucson. Há uma explicação?

Eu fui lá... ela nunca quis voltar, mesmo quando esteve muito próximo. Creio que se deve aos momentos da sua adolescência que a marcaram, em que estava muito isolada e se sentia diferente tanto intelectual como sexualmente. Ela fechou a porta e isso foi uma prática repetida em muitas situações.

No fim, Sontag foi igual a muitos escritores ao achar que merecia o Prémio Nobel!

Ela queria aceitação, sentia-se esquecida e abandonada, precisava muito da afirmação exterior. Para Susan o prémio era muito importante porque sentia-se insegura e imaginava muitas vezes como seria feliz quando tivesse um apartamento que ambicionava ou esse prémio.

Refere-se na maior parte das vezes à biografada como Susan, só quando o tema é mais complexo é que a chama Sontag. Porquê?

Quando no livro falo da sua vida pessoal chamo-a de Susan... a Susan privada é a Sontag pública... mas para mim ela é sempre Susan porque conheço-a muito bem.

O livro tem sido traduzido em vários países, ou seja, tem corrido bem?

Estou muito satisfeito com o livro, afinal ganhar um prémio Pulitzer não é uma coisa que aconteça muitas vezes na vida. Já posso entrar na reforma... não o farei, claro. Agora estou na fase final de um novo livro, sobre arte na Holanda e a minha vida neste país onde estou a viver. Faltam dois capítulos...

Benjamin Moser

Editora Objetiva

687 páginas

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