Varoufakis: nova vida cheia de entrevistas e conferências

Ex-ministro das Finanças fala hoje na Universidade de Coimbra sobre a democratização da zona euro. Um tema que está entre os objetivos do futuro político do economista
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"Pouco depois de serem anunciados os resultados do referendo [61% para o não], fui informado de uma certa preferência de alguns participantes do Eurogrupo e de vários parceiros pela minha ausência nas reuniões. Uma ideia que o primeiro-ministro considerou ser útil para que conseguisse chegar a um acordo. Por isso, deixo o Ministério das Finanças." Foi assim que Yanis Varoufakis anunciou a sua saída do governo de Alexis Tsipras. Estávamos a 6 de julho, um dia depois do referendo.

Acabou-se Varoufakis ministro, passou a haver Varoufakis deputado do Syriza, tornando-se mais uma das vozes críticas à cedência de Tsipras aos credores e à assinatura do terceiro resgate. Críticas que tiveram efeitos práticos nas votações dos dois pacotes de medidas de austeridade realizadas ainda em julho - na primeira, dia 16, votou contra todas as medidas; na segunda, dia 23, mudou o sentido de voto, pois tratava--se de medidas que ele próprio tinha proposto. Em meados de agosto também esteve entre os deputados rebeldes do Syriza (partido do qual nunca foi militante) que votaram contra o terceiro resgate.

Pelo meio e já depois de abandonar o Parlamento, devido à demissão do governo, o economista grego tem-se desdobrado em entrevistas - algumas dadas na sua casa de férias na ilha de Aegina, outras nos países que tem visitado -, conferências e eventos partidários Europa fora. Hoje estará na Universidade de Coimbra a falar sobre a "Democratização da zona euro", no arranque dos programas de doutoramento do Centro de Estudos Sociais.

"Com base nos meses de negociações, a minha convicção é que o ministro das Finanças alemão quer que a Grécia seja empurrada para fora da moeda única de forma a meter medo aos franceses e obrigá-los a aceitar um modelo de uma zona euro disciplinadora", escreveu Yanis Varoufakis no britânico The Guardian apenas três dias após a sua demissão. A Alemanha, mais especificamente Wolfgang Schäuble, tem estado na mira do grego.

Mas não só: o funcionamento do Eurogrupo e das instituições europeias em geral também tem merecido a atenção de Yanis Varoufakis nos últimos meses. Aliás, o seu futuro político, como já confessou, passa precisamente pela formação de um movimento para "restaurar a democracia" na Europa, garantiu a 27 de agosto em entrevista à Reuters. "Penso que deveremos tentar uma rede europeia que, a dado ponto, evolua para um partido pan--europeu", esclareceu no mesmo dia à australiana ABC. Ligado a este movimento também deverá estar o francês Jean-Luc Mélenchon, do partido Frente da Esquerda, e com quem Varoufakis participou no verão em eventos partidários em França.

Em meados de setembro, Varoufakis esteve em Londres para um congresso de sindicatos e aproveitou para oferecer os seus serviços como conselheiro económico ao novo líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn. No dia 23, o grego está de regresso à capital britânica para participar numa conferência do The Guardian com o líder do Podemos, Pablo Iglesias. Moscovo, Berlim, Paris ou Barcelona são outras cidades onde tem participado em debates.

Depois da queda do governo provocada pela demissão de Alexis Tsipras, Varoufakis anunciou que não voltaria a ser candidato pelo Syriza. Mas também não tardou a deixar claro que não se uniria ao partido dos dissidentes, a Unidade Popular, liderada pelo ex-ministro Panagiotis Lafazanis. "Para eles, o regresso à dracma é uma questão de ideologia. As moedas não são um fim em sim mesmo", disse ao Die Welt. Discordância que, no entanto, não impediu o economista de ir apoiar o novo partido nas legislativas antecipadas de 20 de setembro.

E depois há a relação entre Varoufakis e Alexis Tsipras, um tópico recorrente nas entrevistas que o ex--ministro das Finanças tem dado nestes últimos meses. "Posso discordar dele e declarei isso mesmo demitindo-me. Mas percebo a posição difícil em que se encontra. Por isso estamos unidos na crítica à política altamente antidemocrática e economicamente irracional da Europa em relação ao governo grego", disse a 18 de julho à BBC.

O final do mês de julho trouxe ao conhecimento do público o plano B de Yanis Varoufakis, que incluía a criação de um sistema bancário alternativo e piratear os dados dos contribuintes gregos. Este plano estaria a ser preparado desde dezembro e a sua elaboração teria a autorização de Alexis Tsipras, que no entanto nunca terá dado "luz verde" para a sua implementação.

O economista acabou por admitir a existência de um plano B - que já em agosto foi investigado pela unidade grega de combate aos crimes informáticos - mas negou que a sua intenção fosse a saída do euro.

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