"Vamos travar o Brexit e revogar o Artigo 50.º"

Jo Swinson, de 39 anos, assumiu-se como candidata a primeira-ministra do Reino Unido pelos liberais-democratas e criticou Boris Johnson, Jeremy Corbyn e Nigel Farage, na conferência do partido, em Bournemouth
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Jo Swinson assumiu-se como candidata dos liberais-democratas a primeira-ministra, prometendo travar o Brexit se for eleita para o cargo, quando houver eleições no Reino Unido, revogando de imediato o ativação do Artigo 50.º.

"Quero dizer, claro como a água, que um governo liberal-democrata vai revogar o Artigo 50.º desde o primeiro dia. Porque não há qualquer Brexit que seja bom para o nosso país. A energia está connosco. Vamos travar o Brexit", declarou a nova líder liberal-democrata no discurso de encerramento da conferência anual do partido, em Bournemouth, Inglaterra.

Swinson, de 39 anos, começou por lembrar que a primeira vez que veio a uma conferência do partido foi há 21 anos e por assinalar que este conta, hoje em dia, com muitos novos membros. E pediu que eles se levantassem. Efetivamente, muita gente descontente, tanto com o Labour como com os Conservadores, pela foram como têm lidado com o dossiê do Brexit, tem-se passado para os liberais-democratas. Incluindo deputados, lordes e ex-membros de governos.

Referindo-se diretamente a Boris Johnson, o atual primeiro-ministro a quem acusou de ter tiques ditatoriais, afirmou: "Ele diz que consegue negociar um acordo do Brexit num mês. Não depositaria muita esperança nisso. Uma vez que ontem ele nem sequer conseguiu negociar a sua participação numa conferência de imprensa". Referia-se ao facto de o líder conservador ter sido vaiado no Luxemburgo quando devia dar uma conferência com o primeiro-ministro do país Xavier Bettel.

A dirigente liberal-democrata que afirmou ser "escocesa, britânica e europeia" também não poupou, no mesmo discurso, o líder do Labour Jeremy Corbyn, o qual tem sido reticente, ao longo dos tempos, em construir uma alternativa credível. Primeiro foi acusado de não defender o suficiente a permanência na UE no referendo de 2016, depois de hesitar em apoiar a ideia de um segundo referendo sobre o Brexit e, por fim, de ter medo de ir a eleições antecipadas,

"Os britânicos de todo o país merecem uma escolha melhor do que entre um proclamado Etoniano e um socialista da década de 1970", declarou Swinson, referindo-se a Boris Johnson e a Jeremy Corbyn. "Quando houver eleições mal posso esperar por vencer as forças coletivas do populismo e do nacionalismo que estarão no palco para debater. Johnson, Farage e Corbyn. Nigel Farage pode ser Brexit de nome, mas está claro que Jeremy Corbyn é Brexit de natureza", disse, estendendo as crítias do líder do Partido do Brexit e ex-líder do partido eurocético Ukip.

"O nosso país precisa de nós agora, não temos dez nem 15 anos, temos que agarrar a oportunidade agora. Deixem-me ser clara: Não há limites para a minha ambição. E hoje apresento-me como candidata a primeira-ministra (...) Os insultos de Boris Johnson são reveladores por si só: rapariga de tamanho grande, nódoa feminina... Mas deixem-me dizer uma coisa aqui nesta conferência: se ele pensa que ser mulher é sinal de fraqueza, ele está perto de descobrir que não é", afirmou, recebendo múltiplos aplausos da sala inteira.

Passando em revista outros pontos do seu programa, Swinson, mãe de dois filhos, lembrou que não há Planeta B e que se for eleita o seu governo terá um orçamento dedicado ao bem-estar como existe já na Nova Zelândia. "Nós fomos condicionados a acreditar que enquanto o PIB estiver bem tudo estará bem. Mas ignoramos a realidade por trás dos números. Um governo liberal-democrata colocará o bem-estar das pessoas e o planeta no centro de tudo o que faremos", garantiu Swinson.

Prometendo ação contra os crimes de arma branca, que se tornou um flagelo no país, a líder dos liberais-democratas garantiu também que um governo liderado por si destinará mais fundos para os serviços de saúde destinados à saúde mental. "É preciso investir fortemente nos serviços de saúde mental para crianças e adolescentes nas nossas comunidades".

Atualmente, os liberais-democratas surgem como o terceiro partido nas sondagens, sendo que nas eleições europeias de maio passado foi o segundo partido mais votado, logo a seguir ao Partido do Brexit de Farage. O Labour de Corbyn ficou em terceiro, os Verdes em quarto e os Conservadores em quinto.

O Partido Liberal-Democrata, que durante a liderança de Tim Farron e Vince Cable, parecia estar a preparar-se mais para ser extinto do que para governar, encontrou, subitamente, na crise do Brexit, um balão de oxigénio. A formação passou grande parte desta década a pagar o preço da sua coligação de governo com os conservadores entre 2010 e 2015. Se em 2010, com Nick Clegg, os liberais-democratas elegeram 57 deputados, em 2017, nas eleições antecipadas convocadas por Theresa May, tiveram 12.

O Fixed-term Parliament Act, que agora impediu Boris de conseguir eleições por falhar uma maioria de dois terços do Parlamento, foi uma exigência, na altura, de Clegg a David Cameron, então líder dos Conservadores, para aceitar formar a coligação. Agora, o número de militantes liberais-democratas atingiu um recorde, de 120 mil pessoas, um número celebrado nesta conferência de Bournemouth.

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