Vai um passeio pela cidade dos desenhos?
Por esta hora já Nuno Saraiva inaugurou Fónix, em plena Casa da Cultura de Setúbal. Fê-lo à meia-noite para assinalar a "hora zero" da Festa da Ilustração, exibindo uma retrospetiva no auge do seu processo criativo. A organização anuncia uma exposição com "cores fortes, todos os sentidos do humor, ironia como navalha e uma sensualidade gritante".
Quem visitar o espaço ocupado pelo ilustrador contemporâneo destacado nesta segunda edição da Festa - no ano passado foi André Carrilho - poderá ainda ser surpreendido com o maior conjunto de imagens até hoje exposto por Nuno Saraiva. E nem é preciso sair da Casa da Cultura para ver as obras de João de Azevedo, que traduz no papel os "inúmeros exílios e quem os sofre há muito". Pelas paredes vão estar trabalhos recentes do autor que abordam a crise dos refugiados.
Uns cinco minutos calmamente a pé são mais do que suficientes para se chegar à próxima mostra, onde o humor de Luís Afonso assenta arraiais no Teatro de Bolso, enquanto outros cinco minutos garantem entrada na galeria de exposições da Casa da Baía onde se reúnem cerca de 400 obras de centena e meia de autores rumo à "bíblia da ilustração". Daqui irá sair o catálogo com todos os artistas que "valem a pena em Portugal", como explica o organizador José Teófilo Duarte, sendo, também por isso, a exposição batizada com o nome de Ilustração Portuguesa. Entre os cartoonistas, lá estão André Carrilho, Cristina Sampaio, André da Loba, João Fazenda ou André Letria. E mais, muitos mais.
Nunca Bocage foi tão desenhado
E, uma vez na Casa da Baía, que tal aproximar-se do rio Sado para responder a esta pergunta: "Conheces Bocage?" Na oficina do Porto de Setúbal, as escolas secundárias da região juntaram futuros ilustradores para relembrarem o célebre poeta, lançando vários olhares sobre este ícone arcadismo lusitano. Uma coisa é certa, "nunca o poeta setubalense foi tão desenhado", diz a organização.
De regresso à Luísa Todi, a Festa da Ilustração prossegue na Casa da Avenida. Com o título É Preciso Contar Uma História?, esta exposição baseia-se na ilustração infantil a partir dos trabalhos de vários autores para os projetos das editoras Planeta Tangerina e Edições Heterogémeas. A proposta aborda uma viagem ao universo efervescente da ilustração para a infância e juventude contemporânea. Também é neste edifício que se vai fazer a Festa do Livro Ilustrado, enquanto do outro lado da estrada a Galeria do Banco de Portugal acolhe Desenhar a Moeda, cujos protagonistas são igualmente alunos das escolas da cidade.
Aliás, o concurso Desenha a Moeda já tem vencedor. Martim Estanislau, aluno do 3.º ciclo da EB de Azeitão, fez o desenho que será cunhado numa moeda comemorativa de 5 euros, em 2017, sobre a forma como vê o futuro.
Carrilho no museu do trabalho
Até à Biblioteca Municipal é o tempo de voltar a atravessar a estrada. Rapidinho, portanto. É lá que se encontra a mostra de Hans Christian Andersen e os cadernos de viagem do escritor dinamarquês que andou por Portugal, passando uns dias em Setúbal. Já lá vão 150 anos, mas os desenhos feitos por todo o mundo para ilustrarem as edições das suas histórias vão ser recordados, enquanto ali ao lado se estende a passadeira a Ilustração, de Luís Filipe Abreu, o desenhador clássico em foco nesta edição (ver entrevista na página 39).
A sua arte é exibida na Galeria Municipal do 11, a partir de dia 9, quinta-feira, destacando a organização a longa carreira do artista que criou centenas de selos, vários deles premiados, e notas para o Banco de Portugal, como a célebre nota de 100 escudos, em que figurava Fernando Pessoa.
Logo ao lado está o Museu do Trabalho Michel Giacometti, com várias alternativas ao longo do mês, onde se inscreve a arte do próprio André Carrilho, que regressa a Setúbal para desenhar ao vivo no dia 25 de junho. O cartoonista termina o projeto Desenhar em Cima da Conserva, com origem na loja Conserveira de Lisboa. Além desta mostra, composta por um total de 12 painéis e patente até 3 de julho, o museu recebe ainda as coletivas Resumo da Matéria Dada, dedicada ao 25 de Abril, e Fora de Muros, com desenhos feitos por reclusos do Estabelecimento Prisional de Setúbal, inspirados em Bocage e no desporto.
A festa extravasa a Baixa sadina e chega à freguesia de Azeitão, onde Nuno Saraiva leva registo da "sua" Fónix aos lavadouros, enquanto a Sociedade Filarmónica Azeitonense recebe alguns trabalhos das escolas secundárias com o mesmo mote: "Conheces Bocage?"