Vai firme Catarina ao volante do uberXL

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Convocou António Costa para uma reunião logo na segunda-feira, para assinar "um contrato de ferro" para a legislatura; confiou ao mundo português a necessidade indispensável ter o BE como terceira força política na Assembleia; chamou "caricatura da direita económica aos liberais"; e alertou para o que seria "uma governação em ziguezague, à vista, sem direção" se o PS não estivesse nas mãos do Bloco. O povo ouviu-a com atenção e decidiu. Votando massivamente em Costa e à direita (exceção feita a um CDS em profunda crise de identidade), remetendo a extrema-esquerda para mínimos históricos.

E enquanto as ideias dos liberais encontraram eco em quase 300 mil eleitores, multiplicando por oito a sua representação no Parlamento, e enquanto André Ventura se afirma na Assembleia com uma força que impede os (quase todos) que tentavam remetê-lo a uma insignificância que nunca foi real de continuar a não considerar o Chega como aglutinador da vontade de um número muito significativo de portugueses, o BE ficou quase afónico.

Haverá razões de utilidade prática que afastaram eleitorado do Bloco, como do PCP - caídos ambos na armadilha de chumbarem o orçamento e ficarem colados à imagem que Costa para eles desenhou à medida, os traidores da geringonça. A vontade de uma estabilidade governativa incontestável fez recuar eleitorado que se chegava à extrema-esquerda, desiludido com o passo em falso dos partidos que antes suportavam a geringonça. Como também fez recuar alguns dos que se inclinavam para Rui Rio, receosos da fragilidade ou até impossibilidade do tal consenso alargado ao centro que se exigia para levantar o país.

Rui Rio reconheceu a estratégia falha e anunciou a retirada logo na noite eleitoral, apesar de até ter somado mais 80 mil votos ao resultado de 2019. Francisco Rodrigues dos Santos entendeu a mensagem da direita, que deixou o CDS sem representação parlamentar pela primeira vez na história da democracia, e saiu de cena. Até Jerónimo de Sousa admitiu a derrota pela primeira vez na vida do PCP. Mas não Catarina.

A somar dez anos ao volante do BE, a líder que fez bandeira da geringonça montada em 2015 mas chumbou os dois orçamentos da reedição do governo socialista minoritário, que fez toda a campanha eleitoral entre o bota-abaixo e o piscar de olho a Costa para um entendimento logo que os votos fossem contados, não vê que tenha responsabilidades no pior resultado em 20 anos de existência do seu partido. E aos que lhe pedem a cabeça depois de ter perdido 14 cadeiras na Assembleia e passado de terceira maior representação parlamentar a terceira menos relevante, só promete "desiludir"."O BE não decide a sua direção de acordo com resultados eleitorais."

Catarina Martins, que passou os últimos anos a pedir que rolassem cabeças - de governadores do Banco de Portugal, de juízes, de banqueiros (incluindo Fundo de Resolução e Banco de Fomento, de nomeação pública), de autarcas e até de governantes do executivo a que ela própria servia de bengala, não vê motivos para não continuar a conduzir os destinos do seu uberXL.

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