Os 5 melhores livros para não esquecer a realidade

O verão é tempo para arejar ideias, mas o distanciamento do mundo real não impede que se leia um ensaio ou uma investigação histórica. Cinco sugestões em vários tons para um agosto destemperado.
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O romance é sempre o livro que tem lugar na bagagem de férias, mas este é também o melhor tempo para se ler uma boa investigação histórica ou um novo ensaio. Ainda por cima, mesmo que o tema seja pesado, os autores aprenderam a escrever para todos os leitores e não só para especialistas em determinados assuntos. Portanto, em vez de enfiar apenas literatura de ficção na mala, deve olhar para alguns livros com questões sérias e que não lhe irão estragar as férias.

O conflito de civilizações

Com a confusão ideológica que vai pelo mundo é impossível deixar de ler este ensaio, A Queda do Ocidente (Editora Bertrand), um dos mais clarificadores mini-tratados sobre a situação neste lado do planeta onde vivemos. O autor, Kishore Mahbubani, nasceu em Singapura, foi diplomata durante décadas e é professor universitário. O que faz é desafiar os ocidentais a olharem para o Oriente e perceberem que existe um conflito entre civilizações em curso que pode ser transformado numa realidade pacífica se houver mais investimento nos países pobres. Parte de uma teoria curiosa, a de que a Ásia, designadamente a China e a Índia, foram os principais motores civilizacionais até aos últimos duzentos anos. Substituídos pela Europa e Estados Unidos nessa liderança, estaremos perante uma situação que não irá durar muito e à qual as novas potências referidas devem prestar atenção. A sua opinião sobre os atentados terroristas após o 11 de Setembro de 2001 são outros dos capítulos a ler.

Um mundo apagado

Apesar de nunca ter sido publicado em Portugal, Um Diário Russo (Editora Livros do Brasil) do escritor John Steinbeck e do fotógrafo Robert Capa é um bom exercício de memória quando se quer perceber as diferenças entre o mundo que se instala após a Guerra Fria e o da atualidade. Principalmente, depois do fim da União Soviética - que muitos leitores já não assistiram e muitos mais esqueceram -, ou da Queda do Muro de Berlim, quando compreender o que é relatado nestas páginas torna-se numa verdadeira prova de esforço. As descrições e as fotografias de uma sociedade que estava resguardada ao olhar do resto do mundo permitem ler este diário de uma viagem como se fosse um quase livro de ficção. Steinbeck e Capa viajaram durante bastante tempo pela URSS num tempo em que se pensava ser impossível fazê-lo e o que mostram é uma boa surpresa de verão.

A memória da fuga

O século XX português foi um momento excecional para muitos cidadãos e entre estes estão os que se exilaram por motivos políticos antes da Revolução do 25 de Abril de 1974. Por não aceitarem viver num país perdido no tempo, por não quererem combater em África, ou por outras razões, houve centenas de portugueses que abandonaram a salto Portugal durante a década de 1960 e no princípio da de 1970 e, na maioria, foram viver para países europeus, continuando as suas profissões ou mudando radicalmente o seu percurso. Em Memórias do Exílio (Editora Parsifal), os autores Ana Aranha e Carlos Ademar fazem o leitor confrontar-se com vários depoimentos em que estas novas vidas são contadas muitos anos depois e, tal como no livro atrás, volta a parecer que estamos perante um livro de ficção tais são as particularidades das novas vidas fora do país e a reformulação do pensamento destes protagonistas.

Os filhos esquecidos

A História de Portugal mais recente tem sido nos anos mais recentes um manancial de acontecimentos que inspiram investigações. Furriel Não É Nome de Pai (Tinta da China), de Catarina Gomes, está entre os mais conseguidos no que trata de pegar num facto que se quer ignorado e trazê-lo ao de cima. De que trata este volume? Das muitas crianças que os militares portugueses deixaram na Guerra Colonial entre 1961 e 1974, as quais ignoraram por completo na maioria dos casos. O que fez a autora? Viajou para um dos piores cenários do conflito, a Guiné-Bissau, e perseguiu as histórias possíveis entre as que desejava contar. É uma história verídica e nunca revelada com a dimensão do que faz neste livro, através do qual se percebem contornos dolorosos sobre quem ficou marcado tanto pelo abandono como por ser descendente do inimigo. Este romper de um silêncio, bem como o modo em como essa história foi recuperada neste livro, justificam uma boa leitura de verão.

A ilusão do cinema

Uma das melhores invenções lúdicas da humanidade foi o cinema e isso confirma-se na coleção de filmes que retratam a realidade em Sonhos Públicos (Editora D. Quixote) que Joana Amaral Dias selecionou e sobre os quais escreveu de modo a fazer um bom panorama sobre os cem filmes que de uma o de outra forma fazem a história do século passado. Tem uma grande vantagem, a autora abrange uma ampla série de filmes que levam o leitor a poder observar de outro modo muitos dos acontecimentos mundiais que os realizadores transformaram em filme, sejam estes factos históricos, protestos, guerras, mas sem esquecer que a vida é feita de histórias de amor e de muitas outras coisas simples também que o cinema capta. A esta perspetiva acresce que este olhar é influenciado pela análise com recurso à psicologia, à filosofia e à política, que confirmam que o cinema é uma das melhores formas para condensar a História a todos os níveis. Com uma vantagem, o leitor pode ir intervalando capítulos - breves - com mergulhos no mar e voltar ao trabalho como se tivesse passados os dias na Cinemateca.

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