Vai de férias? As 5 melhores biografias para ler até ao pôr do Sol
O género da biografia era um território pouco explorado em Portugal nas últimas décadas, no entanto recentemente o número de memórias e investigações têm aumentado em muito. O primeiro dos bons exemplos foi o Bilhete de Identidade, a autobiografia de Maria Filomena Mónica, e a partir daí nada foi o mesmo neste segmento. É claro que a socióloga sabe escrever e a sua vida está recheada de aventuras que poucos portugueses podem contar. Também ao nível da investigação histórica sobre protagonistas, a mudança foi grande e os bons títulos começaram a surgir, assinados por autores e historiadores que abraçaram muitos dos acontecimentos e das figuras que preenchem o passado de Portugal. Este ano, contudo, não foi até agora muito prolífica em livros deste género, daí que a escolha não seja fácil. Nada que impeça de se encontrarem cinco ótimas sugestões para ler neste verão, na praia ou no campo, até que a luz do sol desapareça.
De leitura rápida
Apesar do título, Cebola Crua com Sal e Broa, (Editora Clube do Autor) a autobiografia de Miguel Sousa Tavares tornou-se um campeão de vendas neste primeiro semestre. Tem um grande problema, o de não chegar nem para a primeira semana de férias. É que o autor rebusca histórias da sua juventude e conta os factos da sua vida com muito humor, mesmo quando começa por revelar que não tendo os pais dinheiro suficiente para sustentar a família o despacharam para casa de uns familiares a norte. Onde comia a tal fatia de broa barrada com cebola e sal. Há logo um outro pormenor que puxa à sensibilidade do autor, como gostava muito de nadar os amigos chamavam o atual comentador/escritor de Miguel Carapau. Ou seja, a sabedoria sobre como escrever umas memórias está toda entre a capa e a contracapa e ninguém chega ao fim cansado. Pelo contráruio, diverte-se a ver passar à sua frente as últimas décadas da vida nacional.
De leitura cuidadosa
Se o seu interesse é conhecer a vida de estrangeiros sisudos e que levaram a vida muito a sério, o Diário 1915-1926 (Editora Bertrand), de Virginia Woolf, é a melhor companhia para estas férias. Trata apenas de um pequeno período da sua vida, mas são mais de quinhentas páginas com entradas muito curiosas e que retratam uma época já (quase) centenária. A Grande Guerra surge muito bem descrita pelo olhar da autora, bem como todos os seus esforços para se afirmar na vida literária britânica. Se o leitor faz férias no campo tem esta passagem para comparar com a sua vida: "O L. tem passado a maior parte do tempo a podar as macieiras e a atar as ameixeiras ao muro." Se levar a leitura até ao fim de agosto, não faltam avisos da autora: "O último dia de agosto... e que dia!"
De leitura interessada
Qualquer rainha portuguesa dá um bom livro e o de Paulo Drumond Braga, Mariana Vitória de Bourbon A Rainha Discreta (Editora Temas e Debates) não foge a esta característica. O historiador já tem vários títulos deste género biográfico, bem como trabalhos de investigação noutras áreas da História, e desta vez recria a vida da mulher de D. José I, rainha consorte de Portugal. Diz o autor que Mariana era "decidida, prudente, sensata, devota, culta", tudo bons ingredientes para um relato sedutor, e não esquece que também era adepta da caça, da equitação, das touradas e de muitos jogos praticados à época. A mãe da futura D. Maria I, esclareça-se, casou aos 10 anos por procuração em Madrid, casamento só consumado aos 14 anos. Para que nada falte, um encarte com pinturas exibe a realidade física da protagonista desta biografia e alguns momentos importantes da sua vida.
De leitura histórica
O subtítulo do livro O Outro Exílio (Editorial Presença) do historiador Abdul Rahman Azzam é A História fascinante de Fernão Lopes, da ilha de Santa Helena e de um paraíso perdido. Logo aí surge uma dúvida, pois não é conhecida a um dos mais famosos cronistas da História de Portugal esta ausência no estrangeiro, no entanto mal o leitor avança na leitura desta biografia compreende logo que este Fernão Lopes é outro, o que viveu um século depois e que viajou até à Índia. O volume está cheio de peripécias como foi a própria vida deste Lopes, sendo que tem uma curiosa: abandonou a nau que o trazia de regresso a Lisboa e tornou-se o primeiro habitante da ilha de Santa Helena. Quando o rei D. João III sabe, mandou-o buscar e, de tão espantado com o que ouviu, concedeu-lhe um desejo - não fosse o monarca conhecido pelo cognome de O PIedoso. Que este Fernão Lopes disse ser o de regressar aonde o tinham ido buscar. Ou seja, uma história que diverte o leitor durante alguns dias.
De leitura irreverente
Houve um momento na vida de Natália Correia em que esta visitou os Estados Unidos. Entre outras coisas o que resultou dessa viagem foi o livro Descobri Que Era Europeia - Impressões Duma Viagem à América (Editora Ponto de Fuga). Tinha a poeta açoriana 26 anos e o seu relato passa-se em 1950, época em que muita gente das suas ilhas já se tinha instalado nesta terra em que muitos sonhos se realizam e que ela descreve. O mais interessante desta escrita é o que o título transmite ao leitor, uma realidade que poucos teriam a lucidez de aprofundar à época como é o autoconhecimento a partir da sua envolvência civilizacional, mas que é um apelo à leitura deste volume. O que Natália Correia faz neste livro é uma mistura de diário onde cabem de tudo: descrições de viagem, poesia e ensaio. Uma edição que recupera o texto original de 1951 e que continua a fascinar por ser tão irreverente como esclarecedor.