A cimeira do Porto será o palco do debate europeu sobre um eventual levantamento de patentes das vacinas contra a covid-19. O tema será levado à discussão "na parte informal", no jantar de sexta-feira (7 de maio), avançou fonte oficial ao DN..Na véspera da cimeira, a presidente da Comissão admitiu a discussão da proposta dos Estados Unidos, para que seja encontrada uma resposta para necessidade de reagir proporcionalmente à dimensão da "crise".."Trata-se de uma crise sanitária mundial e as circunstâncias extraordinárias da pandemia de Covid-19 exigem medidas extraordinárias", vincou a representante comercial dos Estados Unidos, Katherine Tai, num comunicado em que expressou o "apoio dos [EUA] à isenção destas proteções para as vacinas contra a covid-19"..A tomada de posição, nos EUA, caiu de surpresa, em Bruxelas. E, "no espaço de horas", o assunto tornou-se incontornável, e está "a ser analisado", afirmou a porta-voz da Comissão Europeia, Dana Spinant..A presidente da Comissão Europeia não é uma defensora do levantamento de patentes, e se o vier a fazer, tal representará uma mudança de posição, em relação ao que veio a argumentar. Admitiu, porém, o debate sobre o tema, considerando que todas as ideias para combater a pandemia são bem-vindas.."É por isso que estamos preparados para discutir como é que a proposta norte americana, para o levantamento da propriedade industrial das vacinas contra a covid-19, pode ajudar a alcançar esse objetivo", afirmou Von der Leyen, fazendo também referência aos bloqueios nas exportações de vacinas como um dos inimigos da disponibilidade de doses..Os governos europeus vão levar o assunto à mesa do jantar informal, na "noite de sexta-feira", apurou ao DN. Entretanto, a porta-voz da Comissão Europeia , confirmou que "o tema vai ser discutido pelos líderes no Porto"..Até aqui, a posição na União Europeia tem sido desfavorável ao levantamento de patentes, com o argumento, de que o "problema está nas cadeias de abastecimento", e "numa questão central, que é a capacidade de produção", como afirmou o próprio primeiro-ministro português, António Costa, em março, tento frisado que "nunca na história da humanidade foi necessário produzir um tal número de vacinas num tão curto espaço de tempo"..Mas o tem não é consensual na União Europeia. E, já esta quinta-feira (6 de maio), em sentido inverso, o presidente Francês, Emmanuel Macron veio defender uma posição, assumindo-se "absolutamente a favor" da suspensão temporária dos direitos industriais para a produção das vacinas contra a Covid-19.Desde o início do ano que a África do Sul têm-se destacado apelado ao levantamento de patentes, assim como os países da América Latina. Com uma onda devastadora no país, a Índia - que se reúne ao mais alto nível com a UE, no próximo sábado -, junta-se agora a pedido de suspensão da propriedade industrial, para que as vacinas contra a covid-19 cheguem a todas as latitudes..A Europa tem vindo a defender as doações para países terceiros e a abertura às exportações. Questionada pelo DN, quando a vacina começou a ser administrada na Europa, sobre a necessidade de haver um levantamento dos direitos de propriedade industrial, Von der Leyen considerou que "o importante é que a União Europeia tenha tomado medidas para que não tenhamos vacinas apenas para a população europeia, mas também para os países da nossa vizinhança".."Garantimos 2300 milhões de doses de vacina. É suficiente para a população europeia e para a vizinhança. Considero muito importante apoiarmos os países de rendimento médio e baixo. Além das doações em géneros, a Comissão Europeia e os Estados-Membros estamos a financiar a Covax, juntamente com a Team Europe", disse, considerando a UE como "os maiores doadores, com 800 milhões de euros doados à Covax para que no momento em que a Covax tenha acesso às vacinas, possa adquirir essas doses".."Apelamos a todos os países produtores de vacinas, para autorizarem as exportações e para evitarem medidas que possam desestabilizar as cadeias de abastecimento", defendeu, destacando o papel desempenhado pelas exportações europeias na capacidade mundial para vacinar contra a covid.."Os envios vão para os nossos aliados próximos, como o Canadá e o Reino Unido. Os nossos queridos amigos britânicos receberam um total de 28 milhões de doses, do continente, até agora. Até 72 milhões de doses foram enviadas para o Japão, e também muitos milhões para os nossos amigos em Singapura, no México, na Colômbia, para referir apenas alguns", afirmou, numa mensagem emitida a partir de Bruxelas numa vídeoconferência universitária, em Florença..Recorde-se que a presidente da Comissão Europeia admitiu a possibilidade de um levantamento de patentes na sequência do diferendo com a AstraZeneca, devido aos atrasos no fornecimento de vacinas..Em março, Von der Leyen admitiu que "todas as opções em cima da mesa", respondendo na altura que "não descarta nada", quando questionada sobre o tema, numa altura em que reconhecia a falta de argumentos "para explicar aos europeus" a penúria de vacinas, sendo a UE exportadora em larga escala, para outras regiões do globo..Entretanto, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel expressou o "total empenho" da União Europeia para "eliminar todas as barreiras que impedem a luta global contra a covid-19".."Todos os países devem permitir a exportação e evitar a interrupção das cadeias de abastecimento", afirmou, defendendo uma "terceira via" para "desenvolver a capacidade de produção global com o apoio financeiro da UE para os países em desenvolvimento"..O assunto será abordado "no Porto", afirmou o presidente do Conselho Europeu, admitido que "a ideia da isenção de patentes", será incluída na discussão..Sem se referir à posição assumida pelo aliado norte-americano, que contrasta com o que têm sido afirmado a nível europeu, Charles Michel afirma que "a cooperação multilateral é a chave", considerando que um tratado sobre pandemias, no âmbito da Organização Mundial de Saúde "seria uma ferramenta poderosa"