"Nunca tínhamos vivido semelhante violência contra nós." "Chegámos a pensar que nos iam linchar." É desta forma que fontes policiais catalãs descreveram ao jornal El País a violência vivida desde segunda-feira na Catalunha, sobretudo na noite de sexta-feira e na madrugada de sábado, nas manifestações que protestavam contra a sentença que condenou os dirigentes independentistas a penas entre nove e 13 anos de prisão..Segundo dão a entender os jornais espanhóis, as forças policiais foram surpreendidas com tamanha violência, as autoridades políticas e a população em geral também. "Foram manifestações de violência que nada tiveram que ver com outras, de há muitos anos, realizadas em nome da causa independentista", alerta José Manuel Anes, especialista em segurança e criminalidade e ex-presidente do Observatório da Segurança..Em Barcelona, neste domingo, o sétimo dia em que a população sai à rua para se manifestar, a polícia catalã descreveu aos jornalistas o que viveu nestes dias, durante os quais foram feitas várias detenções. Ao todo, terão sido mais de 50, com uma dezena de suspeitos envolvidos nas ações violentas a ficarem em prisão preventiva e outros tantos com medidas de coação. Mas aos serviços de urgência médica chegaram muitos mais. Os jornais dão conta de 576 pessoas, 19 ainda internadas devido aos ferimentos graves que sofreram..O dia de sábado, o sexto de protestos, foi, apesar de tudo, mais calmo, segundo as autoridades. Na imprensa é mesmo referido que "o cordão humano feito por voluntários independentistas moderados, entre a polícia e os manifestantes, conseguiu travar a onda de violência". Mesmo assim, em algumas zonas de Barcelona, houve caixotes incendiados, lixo no chão e estradas cortadas..A polícia acredita que os protestos e a violência irão diminuir de intensidade já a partir desta segunda-feira, dia 21, mas, para o que viveram até agora, não têm outras palavras senão "inferno" e "loucura". O jornal catalão La Vanguardia revela na sua edição de domingo mensagens trocadas no WhatsApp por vários elementos da polícia e que demonstram o que foi vivido e sentido nos últimos dias. "Atacaram-nos com motosserras e bolas de aço." "É uma guerra louca." "Um verdadeiro inferno." "Nunca vi isto na minha vida." "Eu disparei uns 150 cartuchos, mas nada os parava.".As forças policiais foram surpreendidas com tamanha violência e agora vêm dizer que, afinal, estes jovens, supostamente associados à causa independentista, "estavam bem treinados", "organizados" e "usavam técnicas de violência" nunca vistas por ali..Aliás, vieram confirmar que nos confrontos ou entre os detidos não estavam só jovens, "havia adolescentes", que, provavelmente "vão ao engano" e "adultos, dando o exemplo de um já com 38 anos e cadastro"..A polícia catalã diz que nas ruas a espalhar a violência devem ter estado entre 1500 e 2000 pessoas, que se organizaram em várias linhas, primeira, segunda e terceira. Na frente, havia uma linha formada por uns 500, sempre de gorros, caras tapadas, capacetes de moto na cabeça e óculos protetores, na segunda linha outros 500 ou mais e na terceira os elementos já se misturavam no meio da população que se manifestava..As mesmas fontes admitiram aos jornalistas que "não se saíram mal nas intervenções", mas que foi difícil identificá-los e intercetá-los. "Só comunicavam por rádio e Telegram (rede social criada por russos) e foram identificados jovens espanhóis, italianos e gregos", o que os faz suspeitar de que o caos criado teve mão de grupos organizados, no entanto, nunca o afirmam abertamente..Causa independentista pode estar a ser aproveitada por outra causa internacional.O ministro do Interior, Miquel Buch, já no sábado, veio dizer que receava que a causa independentista da Catalunha estivesse a ser aproveitada por grupos internacionais com outras causas, mas sem mais explicações..Mas hoje a polícia catalã vem assumir que ficou surpreendida e os Mossos d'Esquadra, que há anos estão presentes na vigilância das manifestações independentistas, tantas vezes foram criticados pelos próprios catalães pela violência que usavam nas suas intervenções, declararam ter vivido um autêntico inferno. "Nada os detinha. Pensava que nos iam linchar", referia um dos elementos ao La Vanguardia. .Fontes policiais explicaram ao El País que para identificar mais cedo e deter este grupo de jovens tinham de ter usado o serviço de informações ou elementos à paisana, mas que tal "tinha muitos riscos. Se os identificassem linchavam-nos", argumentavam..As mesmas fontes acreditam que a partir de segunda-feira a violência pode diminuir de intensidade. O especialista português em segurança e criminalidade, José Manuel Anes, concorda que a onda de violência vai diminuir, até porque "estes grupos têm uma dinâmica de agressividade que depois não aguenta muitos dias"..O ex-presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) disse ao DN que a violência a que assistimos nos últimos dias na Catalunha já tinha tido situações antecedentes. "O que assistimos na Catalunha é anarquismo puro e duro, é o anarquismo sem causa, o anarquismo pela destruição e pelo caos. Já se viveram situações muito semelhantes em Londres e em Paris. Viu-se isso recentemente nos coletes amarelos", argumenta..Grupo de anarquistas sem causa que vive para a destruição.José Manuel Anes acredita que estes jovens que semearam a violência nas ruas de Barcelona possam estar associados ao grupo de anarquistas Black Bloc(Bloco Negro) já bem conhecido dos serviços secretos de vários países europeus. Segundo explica, "é um grupo de jovens e de adultos que tem vindo a crescer desde há uma década e que anda pela Europa a provocar distúrbios".."Alguns dos seus elementos foram identificados pelas polícias da Europa como sendo CEO de empresas ligadas à extrema-direita," O especialista português refere que "estes grupos são treinados para ser agitadores da violência. Usam técnicas primitivas, como balas depaint-ball, berlindes, bolas de aço, mas que são muito agressivas"..Os jornais espanhóis referiam que o material usado pelos manifestantes trespassava os escudos que a polícia usava. Mas não só. "Eles usaram barras de ferro para abrir as portas traseiras dos veículos da polícia e cortaram os depósitos de gasolina para derramar o líquido.".José Manuel Anes reafirma que a violência a que se assistiu em Barcelona "nada tem que ver com as manifestações que caracterizaram a causa independentista". A questão que agora coloca é: "Como é que a polícia espanhola não os travou antes?" José Manuel Anes defende que perante estes grupos "a polícia não pode agir só reativamente tem de agir preventivamente"..Por exemplo, refere, "em Portugal, houve uma situação há uns anos, aquando da cimeira da NATO, em que se suspeitava de que estes grupos queriam entrar no país. Aliás, vinham mesmo, mas o ministro da Administração Interna da altura suspendeu o acordo de Schengen por dois dias, fecharam-se as fronteiras e eles não conseguiram entrar"..José Manuel Anes acredita mesmo que a melhor forma de lidar com estes grupos é através da prevenção. "É identificá-los, isolá-los, detê-los antes de chegarem aos locais que pretendem, mas isto só se consegue também com muito trabalho dos serviços de informações e com infiltrados.".Em Barcelona, até ao início da noite, o dia foi mais calmo. À rua saíram grupos pró-Espanha que fizeram questão de tuitar constantemente que as suas ações eram pacíficas.