Unir o partido e derrotar Rajoy: os desafios do "renascido" líder do PSOE

Sánchez não tem condições no Parlamento para fazer cair governo. Número de votos nos adversários quase idêntico ao que obteve o novo secretário-geral.
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O novo dirigente dos socialistas espanhóis, Pedro Sánchez, apesar da vitória com mais de 50% dos votos e uma participação histórica de 80% dos militantes na eleição para secretário-geral, encontra hoje um partido tão ou mais dividido do que o deixou em 2016. Sánchez decidiu renunciar ao cargo, que ocupava desde 2014, por discordar da viabilização do governo minoritário do Partido Popular (PP), de Mariano Rajoy. Agora, apesar dos comentadores o classificarem de o "renascido" - numa alusão à personagem de Leonardo Di Caprio no filme do mesmo nome e aos provações que teve de enfrentar - tem pela frente os mesmos desafios que o levaram a afastar-se há cerca de um ano.

Para fazer cair o governo do PP, que conta 137 deputados, Sánchez precisaria de 176 votos, o que parece impossível de concretizar no atual Congresso dos Deputados (Parlamento). Os socialistas têm 87 deputados e a extrema-esquerda do Podemos tem 71. E perante a abstenção ou o voto alinhado com o PP dos centristas e liberais do partido Ciudadanos, Sánchez não conseguirá forçar eleições antecipadas. Cenário que Rajoy considerou impensável. "Depois do disparate de 2016, não contem comigo para gerar instabilidade", disse, afirmando que tentará "chegar a acordo com eles, mas se não for possível, "assim será". Não deixou de recordar que nos sete meses de vigência do governo foi possível chegar a acordos sobre diversas matérias, principalmente em matéria económica. E que foi possível aprovar legislação mesmo com o voto contra do PSOE.

Um indicador da atmosfera política será vivido, a breve trecho, com a votação do Orçamento para o ano corrente em que se espera, para além de Ciudadanos, o governo tenha o apoio de partidos moderados bascos e das Canárias. No passado, Rajoy indicou que a não aprovação abriria caminho a novas eleições.

O Podemos ensaiou ontem uma primeira aproximação à nova liderança socialista, anunciando estar pronto a retirar a moção de censura apresentada na sexta-feira, se o PSOE apresentar uma de sua autoria. Quando o Podemos apresentou a moção, quer o Ciudadanos quer os socialistas recusaram a hipótese de a votarem favoravelmente. Antes de voltar a ser secretário-geral, Sánchez afirmara que só votaria uma moção de censura ao governo do PP se fosse iniciativa do seu partido.

Se na frente de combate ao governo, para já, Sánchez só poderá endurecer a linguagem de oposição a Rajoy, criticando medidas como a mudança das leis laborais e a restrição de direitos sociais, segundo um guião ontem divulgado pelo El Mundo, no interior do partido tem uma dura batalha pela frente. Apesar das promessas de unidades e colaboração feitas pelos candidatos derrotados, Susana Díaz e Patxi López, Sánchez tem de mudar as estruturas do PSOE se quiser impor a sua estratégia. A percentagem somada dos votos de Díaz (39,9%) e López (9,9%), praticamente idêntica aos 50,2% de Sánchez, sugere a importância desse movimento. E um dos primeiros passos será o reforço da direção federal do partido sobre as estruturas regionais. O resultado desse esforço indicará qual vai ser o futuro provável do PSOE cuja direção Sánchez agora recuperou depois de o ter levado, em 2015 e 2016, aos piores resultado eleitorais da sua história.

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