Uma viagem ao Passeio da Fama. Ir às estrelas por 30 mil dólares
Ao longo de Hollywood Boulevard contam-se 2570 estrelas. Entregá--las aos nomes mais sonantes da indústria do entretenimento é da inteira responsabilidade de apenas duas pessoas: Ana Martinez e Leron Gubler. Ela é produtora do Passeio da Fama há 27 anos. Um trabalho que lhe permite "fazer a diferença no mundo do entretenimento e chegar a milhões de pessoas", confessa ao DN. "O Hollywood Walk of Fame é extremamente importante para valorizar esta indústria e as nossas comunidades. Além disso, é um dos destinos turísticos de eleição em Los Angeles, temos cerca de dez milhões de visitantes por ano", diz. Leron Gubler tem o título de mestre-de-cerimónias há oito anos, mas há 22 que trabalha para o Passeio da Fama, aquele que presta homenagem a músicos, cantores, atores e atrizes, realizadores, etc.
Mas de quem é a decisão de atribuir uma das tão cobiçadas estrelas? "Há uma reunião anual, em junho, na qual recebemos duas a três mil candidaturas. Temos um comité que, ao longo de um dia inteiro, seleciona uma média de 24 candidatos por cada uma das cinco categorias [Cinema, Televisão, Rádio, Música e Espetáculo ao Vivo/Teatro]", explica Ana Martinez. "E qual é o critério de seleção?", perguntámos. É simples: "Quem inscrever essa pessoa tem de nos enviar uma biografia completa, através da qual analisamos os pontos altos da sua carreira, a longevidade da mesma (mínimo de cinco anos), as nomeações e prémios recebidos e ações de filantropia", responde.
Só que cada estrela exige um patrocinador oficial e um investimento de 30 mil dólares (cerca de 27,7 mil euros). E é o patrocinador que acaba por pagar tudo. "Há 15 mil dólares que são guardados para a manutenção, o resto é para pagar a construção, a segurança, a colocação da placa e a publicidade", refere a produtora.
Enquanto Ana se responsabiliza pela preparação do grande momento, cabe a Leron preocupar-se com tudo o que decorre durante a cerimónia. É ele, como mestre-de-cerimónias, que entrega as estrelas ao homenageado. O principal desafio é "garantir que todas as cerimónias corram de forma perfeita, suave, e que, acima de tudo, sejam divertidas para os convidados. Este é o dia deles, e, com a quantidade de cerimónias que fazemos, manter as coisas interessantes é certamente o maior desafio", admite ao DN.
Para Gubler, a importância deste Passeio da Fama mede-se pela proximidade com os espectadores. "É a única entrega de prémios de Hollywood aberta ao público", sublinha. Além disso, "uma vez instaladas, as estrelas permanecem nesse lugar em perpetuidade. Nenhum outro prémio oferece isso. É a história viva da indústria do entretenimento. Como tal, preserva a memória dos mais brilhantes performers, que com o passar do tempo correm o risco de ser esquecidos."
Ana Martinez concorda e sublinha: "As estrelas são o único prémio que as celebridades podem partilhar com os seus fãs. Os Óscares, os Grammys, os Tonys... todos eles ficam isolados dentro de uma casa. As estrelas estão ao ar livre, à espera que os curiosos posem com elas", exemplifica a produtora.
Mais de 50 anos a marcar estrelas
O Passeio da Fama começou a ser construído em 1958. Ao longo destes últimos 57 anos foram atribuídas 2570 estrelas. A última delas (curiosamente, a primeira de 2016), entregue na semana passada, tem o nome de Steve Carell, conhecido, entre outras coisas, pela série de comédia The Office e pelo filme Amor, Estúpido e Louco. Acompanhado da família e dos colegas de profissão Will Ferrell e Ryan Gosling, que lhe prestaram tributo durante a cerimónia, o ator aceitou o prémio e agradeceu aos fãs que, apesar da chuva, o vieram apoiar. "Hoje, não existe apenas um Steve Carell, existem milhares. Somos todos nós. Isto é realmente incrível. Todos os que aqui estão parecem uns miseráveis gatos molhados, o que significa imenso para mim", disse.
Entre todas as estrelas que já supervisionou, Ana Martinez tem, como é óbvio, as suas preferidas. "Recordo especialmente o Vicente Fernández [cantor e ator mexicano], que teve mais de quatro mil pessoas a assistir, a Sophia Loren [atriz italiana], a Jennifer Lopez e o Matthew McConaughey, por uma questão de energia de quem esteve presente", admite ao DN.
Já Leron Gubler diz que "é quase impossível escolher favoritos". "Mas se tiver mesmo de ser", brinca, "talvez os mais memoráveis tenham sido o Christopher Reeves, o Andrea Bocelli, a Jennifer Lopez, o Patrick Stewart e a Jane Seymour."
Neste ano, artistas como Bradley Cooper, Kevin Hart, Michael Keaton, Kurt Russell, Ashley Judd, Tracy Morgan, Adam Levine, Cindy Lauper e Bruno Mars vão ter também os seus nomes nas estrelas feitas de terrazzo (material que mistura mármore, quartzo e granito) cor-de--rosa, com contornos de bronze, e que brilham no chão do passeio de Hollywood Boulevard.