Uma tenista, um político influente e um #MeToo censurado na China
Os responsáveis pela censura na internet chinesa bloquearam nesta quinta-feira (04 de novembro) todas as referências a uma mensagem atribuída à tenista Peng Shuai que acusa um ex-vice primeiro-ministro comunista de forçá-la a manter relações sexuais.
A grave acusação da tenista, ex-líder do ranking mundial de duplas e campeã em Roland Garros nesta mesma categoria, foi rapidamente eliminada da sua conta oficial na rede social Weibo.
De acordo com algumas capturas de ecrã que circulam na internet, a tenista de 35 anos acusa Xhang Gaoli, um dos homens mais poderosos da China entre 2013 e 2019, de tê-la forçado a fazer sexo e, em seguida, manter uma relação durante anos.
A publicação desapareceu rapidamente e a AFP não conseguiu comprovar a veracidade nem a autenticidade das capturas de ecrã. Os dados do Weibo indicam que Peng publicou algo na terça-feira (02 de novembro) na sua conta e a mensagem teve mais de 100.000 visualizações.
Desde então, não foram registadas mais declarações da atleta nem uma resposta pública de Zhang, considerado um político próximo ao atual primeiro-ministro Li Keqiang.
A censura bloqueou qualquer menção ao tema e as ferramentas de busca na China não mostram resultados para os nomes Peng e Zhang.
Na longa mensagem exibida nas capturas de ecrã, Peng afirma que estava "muito assustada". "A princípio, rejeitei e estava a chorar".
Além disso, o texto afirma que os dois tiveram um relacionamento contra a vontade de Peng, até que, recentemente, o político decidiu parar o contacto com ela. A tenista afirma não ter provas, mas acrescenta que a esposa de Zhang sabia.
"Mesmo que não seja mais do que atirar um ovo contra uma parede, eu explicarei os factos sobre o que aconteceu", Peng supostamente escreveu na mensagem.
A China viu um incipiente movimento #MeToo em 2018, com denúncias que envolveram figuras públicas. Mas até agora nenhum escândalo tinha afetado personalidades políticas de tanto destaque.