Provavelmente, a força vital deste filme livremente inspirado na história da primeira pessoa transexual que foi submetida a uma cirurgia genital está na elaborada trama do seu argumento, assinado por Lucinda Coxon (que se inspirou no livro de David Ebershoff). Trata-se de começar por expor os desafios médicos, sociais e morais impostos pelo contexto histórico (Dinamarca no começo da década de 1920), mas também de evitar reduzir o caso do pintor Einer Wegener - que viria a transformar-se em Lili Elbe - a uma mera dimensão panfletária. Acima de tudo, o filme dirigido com contido academismo por Tom Hooper consegue expor o modo como a odisseia de Einer/Lili envolve a sua mulher, Gerda Wegener, numa avalanche afetiva que, em última instancia, vai testar a verdade mais íntima dos seus laços amorosos.
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Escusado será sublinhar o modo como as composições de Eddie Redmayne e Alicia Vikander são decisivas para o impacto do filme: eles conseguem a proeza de expor o simbolismo social da sua história, sem nunca simplificar o caráter irredutível de cada uma das suas personagens.
Classificação: ***