Marcus Walker contou nas páginas do Wall Street Journal a história do comerciante arruinado, Vaggelis Petrakis, originário da ilha de Creta, que se suicidou, debaixo de uma oliveira, com um tiro de caçadeira. A taxa da morte auto-infligida, na Grécia, duplicou desde o advento da crise em que a Europa se encontra mergulhada. Antes eram os jovens com perturbações mentais, e os idosos sem esperança. Hoje, quem rasga a vida são, maioritariamente, homens, entre os 35 e os 60 anos. Geralmente, pequenos proprietários, cobertos de dívidas. Homens que subiram a pulso, como os nossos compatriotas das Beiras ou de Trás-os-Montes, que rumaram a Lisboa ou ao Porto, para construírem os seus pequenos negócios. Homens habituados a mandar na sua vida, e que olham com desconfiança para o Estado, mesmo para o Estado social, que lhes cheira demasiado a uma caridade que abominam. Homens, para quem perder a vida parece preferível a permanecer nela num estado que consideram indigno. Homens, para quem a vergonha é a condição negativa de uma honra, sem a qual a vida se tornaria insuportável. Não conheço estudos em Portugal sobre o impacto da crise no aumento dos suicídios. O que sei é que todos aqueles que têm o privilégio de se manifestarem publicamente sobre a crise devem defender a honra dos povos e dos indivíduos que a sofrem como vítimas. No Inverno da derrota alemã de 1918, Max Weber escreveu, antecipando a injusta paz de Versalhes: "Uma Nação pode perdoar o dano causado aos seus interesses, mas não o dano causado à sua honra." A constante ofensa do povo helénico no discurso dos políticos que conduzem a Europa ao colapso acentua ainda mais o valor moral de Vaggelis Petrakis. Nenhum político, até agora, quis redimir com a vida as suas culpas. A vergonha e a honra não fazem parte da sua cultura, como a realidade portuguesa o demonstra até à náusea.