Uma questão de duas ou quatro pernas

O escritor Afonso Cruz escreve todos os meses na Notícias Magazine. Hoje sobre perspetiva, imaginação e questionamento.
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Quando estudava nas Belas-Artes, e porque não havia dinheiro para pagar um modelo, puseram-nos a desenhar um banco de madeira. Naquela altura, não imaginaria nada mais aborrecido do que chegar à faculdade e desenhar bancos à vista. Por isso, esbocei rapidamente aquilo que via, pousei o lápis e comecei a deambular pela sala a ver os trabalhos dos meus colegas. O professor perguntou-me se já tinha acabado o exercício. Disse-lhe que sim e ele perguntou-me se o poderia ver. Levei-o até ao meu cavalete e mostrei-lhe o esboço.

O teu banco só tem duas pernas? Respondi que, do ângulo em que estava, só se viam duas pernas, as outras estavam escondidas pelas da frente.

Ele insistiu que aquele era um banco com duas pernas. Argumentei que estava bem desenhado, com rigor, mostrava um banco visto daquele sítio em que me encontrava.

E, numa exposição, vais dizer isso aos espetadores? Que o banco afinal tinha quatro pernas, mas que do ângulo em que te encontravas só se viam duas?

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