Uma noite para a história: Axl Rose conquistou os fãs dos AC/DC
"Prazer em conhecer-vos, o dia ficou soalheiro de repente", uma frase que entra para a história do rock. Foram estas as primeiras palavras de Axl Rose como vocalista dos AC/DC, no arranque do concerto de ontem da banda australiana no Passeio Marítimo de Algés. E a pergunta que milhares de fãs de todo mundo farão hoje é se a junção da voz dos Guns N" Roses faz sentido com a música criada pelos irmãos Young. E a resposta de ontem foi eloquente: o homem, apesar da perna partida, esforçou-se e encaixou na perfeição com os riffs do colegial Angus. Desenganem-se os críticos, the song remains the same.
Os prenúncios não eram nada favoráveis. Depois da doença mental de Malcom Young, o líder e mentor musical dos AC/DC, e dos problemas com a justiça do baterista Phill Rudd, a notícia da saída forçada de Brian Johnson, o já mítico vocalista da banda, por risco de surdez, fez temer o fim à nascença da digressão que arrancaria em Portugal. Mas os australianos tiraram da cartola um coelho bem mediático, Axl Rose, que rapidamente dividiu opiniões, sob ameaças de uma corrida às devoluções de bilhetes. A juntar a essas nuvens negras, avolumaram-se ontem outras bem reais, que durante todo o dia descarregaram chuva forte sobre a região de Lisboa. Estaria este concerto condenado ao fracasso?
"Os poucos bilhetes que foram devolvidos foram recomprados e não se notou o efeito da chuva na multidão", afiançou fonte da organização ao DN. Por volta das sete da tarde já o recinto junto ao Tejo estava bem composto de pessoas de todas as idades, numa verdadeira united colors of AC/DC de impermeáveis. Minutos depois, chegava o visitante mais esperado durante todo o dia, o sol.
Com uns chifres de plástico na cabeça, António, um dos 60 mil resistentes, admite que "não teria comprado o bilhete se soubesse que o Axl seria o vocalista, mas agora tinha de ver o resultado desta combinação". A mesma curiosidade que trouxe a Portugal milhares de fãs de outros países e dezenas de publicações internacionais.
Afinal de contas, 7 de maio de 2016 entrava na história do hard "n" heavy. E o resultado não desiludiu. Se o arranque de concerto ficou mais marcado por um vídeo introdutório, com o logótipo da banda gravado na superfície lunar, do que pela música que dá nome ao último álbum e a esta tour - Rock or Bust -, já a velha Shoot to Thrill pôs o recinto pela primeira vez aos saltos. Um ensaio para as restantes duas horas de música e um alinhamento frenético de 21 canções que terminou com o som de canhões em palco. E fogo-de-artifício nos céus, de onde não caiu uma gota de água durante todo o espetáculo.
Back in Black, Dirty Deeds Done Dirt Cheap, Thunderstruck, Hells Bells, Let There Be Rock, Highway to Hell, High Voltage, Sim City, todos os grandes hits cantados com uma saúde vocal que já não se via em Axl há muito tempo. E que nem o facto de ter passado o concerto todo no seu trono afetou. Ainda o espetáculo ia a meio e já se ouvia o público a gritar em coro o nome do vocalista dos Guns N" Roses. No final, muitos admitiam o impensável: talvez até gostassem mais da voz de Axl Rose a cantar as músicas desta banda que já vai a caminho da metade de século e que influenciou vários géneros, do thrash metal ao rock fm.
Nota de destaque óbvia ainda para o sessentão Angus Young, o único elemento fundador ainda no grupo. O homem do uniforme continua a não parar em palco, fazendo inveja a muitos guitarristas com metade da sua idade.
Na memória fica um concerto que entra para as enciclopédias musicais e que nem uma tempestade primaveril conseguiu estragar. Aos AC/DC e aos 60 mil resistentes do rock, we salute you...