Uma grande equipa
A energia dos zero aos noventa minutos e muito depois também. A capacidade de concentração inesgotável, do avançado ao guarda-redes, sem mácula, sem um segundo de distração, sempre a mil. A resiliência extraordinária face à saída prematura de Cristiano Ronaldo - e que murro a frio aquilo foi. A resistência face às críticas ferozes, algumas delas justas, embora nem todas. E ainda a notável união dentro do relvado fizeram de Portugal um justo vencedor do Campeonato Europeu. O país não ficará mais próspero nem provavelmente mais altaneiro - hoje já é outro dia. Futebol é entretenimento - e sofrimento, às vezes muito -, mas como em tudo o que implica alta-competição exige notáveis doses de profissionalismo e rigor. Implica construir uma máquina e uma organização à altura de circunstâncias tão complexas. É possível chegar a uma final de um Europeu com alguma sorte à mistura, não é possível ganhar uma final - ainda por cima tendo pela frente a equipa da casa - sem que neste mês de futebol não se tivesse operado uma mudança significativa na seleção portuguesa. Essa mudança aconteceu. Fica para trás o tempo do futebol que enchia o olho e pronto, deixando para as outras equipas a glória desportiva, posta depois a render noutros planos. A seleção portuguesa de futebol deu ontem o passo que faltava para a maturidade. E isto acontece no mesmo dia em que outros atletas, embora com muito menos cobertura informativa, também alcançaram o ponto mais alto das suas carreiras - e com isso contribuíram para um dia em cheio de festa nacional. A história de um país faz-se de derrotas e de vitórias: na educação, na cultura, nas empresas, na política. E no desporto também. Não vale a pena sobrevalorizar o feito de ontem - até porque agora falta ganhar o Mundial, a nova meta -, mas desvalorizá-lo seria estúpido e absurdo. Além do justo reconhecimento a Fernando Santos e aos futebolistas pelo esforço e pela vitória que trazem para casa - são heróis do desporto nacional -, Portugal pode talvez aproveitar a ocasião para ver-se ao espelho e dizer: nada mau, agora vamos aproveitar o impulso. Há muito mais para ganharmos juntos.