Uma estratégia perfeita?

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Os fins justificam os meios, afirma-se. E se os meios constituem um fim em si? Os ensaios nucleares e o disparo de mísseis, aliados à retórica ultrabelicista e apocalíptica de Pyongyang, visam incutir nos adversários o receio de um confronto armado cujos custos seriam, certamente, elevados. Para todos. E para evitar esse cenário, pratica-se a diplomacia e uma política de sanções internacionais que enfraquece e, paradoxalmente, reforça o regime. Quanto mais isolado estiver, mais a liderança exercerá um total controlo sobre a sua população e tornar-se-á perante esta, por via do discurso ideológico, insubstituível. Por isso, em qualquer processo negocial, o desígnio central de Pyongyang não é resolver uma crise, mas obter vantagens para viabilizar o regime e garantir a a sua sobrevivência. Por isso, serão sempre dados passos adiante e passos atrás. Estes últimos serão até dados após vitórias diplomáticas que permitiriam a redução de tensões. E sem situações de crise, o regime perde parte da sua razão de ser. Observe-se o sucedido na década de 90 até meados da primeira década do século XXI. Um dado a reter: o programa nuclear tornou-se o fundamento do regime - não como instrumento de estratégia militar, mas como instrumento negocial e legitimidade do seu sucesso no plano interno, a comprovação da validade da ideologia que rege o país. Este é um desafio central em qualquer quadro negocial. O segundo desafio é compreender o padrão de atuação de Kim Jong-un, que procede como um verdadeiro imperador asiático do passado e "deus vivo". O culto à família Kim revela-o claramente. Perante este quadro, o regime de Pyongyang é parte do problema e parte da solução, mas nunca deixará de ser problema e por ele nunca se chegará a uma solução. Como contrariar aquilo que parece uma estratégia perfeita? - Os próximos tempos dirão se é realmente perfeita. Ou se, como perante o clássico nó górdio, a solução existe.

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