Uma corrida contra o tempo

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Os próximos meses da política portuguesa serão uma corrida contra o tempo. É certo que temos um governo condenado, uma crise política ao retardador, porque agradar à provinciana extrema-esquerda portuguesa e respeitar os compromissos europeus do país não é possível em simultâneo.

O governo terá de escolher. Do ponto de vista da sua sobrevivência a escolha é irrelevante: terá chegado ao fim quer escolha um ou outro lado. Isto não torna o governo enquanto tal irrelevante. A corrida contra o tempo diz respeito justamente à variável decisiva do novo ciclo político: qual a extensão do estrago que o governo será capaz de provocar antes do seu fim anunciado? Muitos destes estragos começaram já a ser produzidos: o discurso político tornou-se mais cínico e opaco, mais dependente de pequenos truques e da ofuscação deliberada do debate público. Gafes dentro e fora do Conselho provocaram nesta semana a perplexidade dos nossos parceiros europeus. E a incerteza que de súbito paira sobre o nosso futuro está já a congelar muito do investimento de que depende o crescimento da economia. Os três principais riscos são contudo outros. Primeiro, as finanças públicas tenderão a entrar numa fase de descontrolo. Este governo assenta na satisfação dos interesses de três clientelas distintas. Se uma era mau, três é verdadeiramente assustador. Em segundo lugar, a visão de uma economia mais moderna e as reformas estruturais que iniciaram o processo de modernização tenderão a ser dilapidadas. Terceiro, as nossas relações com as instituições europeias tenderão a entrar numa fase de conflito estéril, da apresentação sucessiva de desculpas para o fracasso, algo que julgávamos pertencer ao passado. Urge portanto que a experiência seja tão breve quanto possível e que, enquanto durar, produza tão poucos estragos quanto possível. Nestes dois pontos a oposição terá um papel importante.

Ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus

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