O encerramento de teatros em Lisboa foi uma sinfonia de tristeza que ressoou com acordes profundos de desolação e melancolia. As cortinas caíram não apenas sobre os palcos, mas também sobre os corações daqueles que amam as artes. Foi um adeus doloroso à luz cénica que iluminava as nossas almas e à música que entoava nos nossos espíritos, que nos serviam de inspiração a lutar sempre por um mundo melhor..Poesias à parte, desde de 2009 que Lisboa vinha a assistir à morte de imensos espaços culturais..Assim, de repente, lembro-me do Cine Teatro Odéon, o Olímpia, o Cinema Paris, o Londres, o King, o Teatro Vasco Santana, o Teatro ABC, e tantos mais numa Lisboa que parecia ter perdido o seu coração cultural. E assim foi até 2021, com o beneplácito daqueles de se dizem "donos" da cultura em Portugal..O encerramento dos teatros é um lembrete sombrio da fragilidade da cultura e das artes. É um golpe no coração da civilização, é uma ferida na alma de uma sociedade que sempre dependeu das artes para expressar, questionar e compreender a complexidade da sua existência..Quando pela primeira vez me sentei com Carlos Moedas, então candidato à Câmara de Lisboa, do muito que falamos retive com emoção a sua atenção para com a cultura: "UM TEATRO EM CADA BAIRRO" dizia-me ele com aquele ar convicto de quem via mais longe. Lembro-me o quão literalmente gozados fomos pelos partidos que até então governavam Lisboa e cujo trabalho, neste campo, se espelhava no encerramento das salas aqui atrás escritas..E desde essa data, e ainda mais desde que Lisboa ganhou "Novos Tempos", passou a haver uma esperança, um desejo ardente e uma vontade por todos partilhada de que, um dia, as cortinas se levantassem novamente, os aplausos ecoassem mais uma vez e os teatros voltassem a ser uma realidade por toda a cidade. Porque se há coisa que o espírito humano tem é a resiliência, e a necessidade de expressar, criar e se conectar nunca desaparecerá..Há algo de mágico na construção de pequenos teatros nos bairros de Lisboa. É uma jornada repleta de emoções que vai muito além das fundações de cimento e das vigas de aço. É a promessa de um novo lar para as artes, um santuário onde a criatividade florescerá, e as pessoas sejam tocadas de maneiras inimagináveis - no riso, no choro, na cumplicidade..À medida que as primeiras "pedras" - literais e figurativas - são colocadas, há uma sensação de antecipação no ar. Os corações batem mais rápido, e os olhos brilham com a excitação de um futuro que se deseja diante de nós. Cada martelada, cada pintura, é como uma batida do coração da cidade, um lembrete de que algo extraordinário vai nascer..À medida que as paredes se formam, a cidade recomeça a respirar com vida, moldando um espaço que será palco para histórias de amor, tragédia e triunfo. À noite, as luzes da construção brilham como estrelas cadentes, lançando seus desejos pelo sucesso do teatro que está por vir..E à medida que o interior é decorado com detalhes, a emoção cresce. Os camarins ganham vida com os espelhos onde os artistas se transformam em personagens. O palco toma forma onde sonhos e talentos se entrelaçarão para criar momentos de beleza e emoção..E quando a cortina abre pela primeira vez, uma onda de emoção varre a plateia e os bastidores. É uma ansiedade, uma curiosidade e uma esperança de que esta noite, esta peça, seja realmente especial. Os artistas entram em cena transportam-nos para mundos desconhecidos, despertando sentimentos que, apercebemo-nos agora, estavam adormecidos à espera daquele momento sempre único..Os teatros numa capital europeia não são apenas edifícios. São corações cheios de cultura e arte. São refúgios para os sonhadores, os amantes e os exploradores da alma humana. São lugares onde risos e lágrimas se misturam, onde estranhos se tornam amigos por meio da experiência compartilhada..A construção de teatros será sempre uma jornada emocional que nos lembra a importância das artes nas nossas vidas. É um tributo à criatividade e à paixão que nos aproxima. E, quando finalmente nos encontramos diante da obra acabada, o novo recinto recém-construído, não podemos deixar de sentir um profundo agradecimento por todos aqueles que dão vida a esse lugar de maravilhas e emoções..Apenas em (quase) dois anos Lisboa tem quatro novos teatros: o AVENIDA (Avenidas Novas), o TURIM (Benfica), QUINTA ALEGRE (Santa Clara) e a CASA DO JARDIM (Estrela)..Que se levante a plateia em aplausos. Merecidos..Todos os dias damos mais um passo para inverter uma política de negligência e outros interesses, que resultou no fecho de salas de espetáculo na nossa cidade..Se estou satisfeito? Claro que não. Ainda há muito a fazer, muitas Freguesias a precisar de salas, muitos sonhadores a precisar das tábuas de um palco para nos fazer sonhar. Mas o caminho faz-se caminhando, e mesmo que fosse apenas um novo teatro, seria sempre mais do que aqueles que anteriormente governavam Lisboa fizeram..Por isso escarneçam, desdenhem, chumbem propostas porque têm uma maioria negativa na Câmara. Nós sabemos, o povo sabe que Lisboa GANHOU mais quatro salas de espetáculo em dois anos, para que os que cá moram, trabalham e visitam possam sonhar, chorar, rir e refletir..Tão bom! E não vamos ficar por aqui. Vamos fazer sempre mais. Porque Lisboa e os Lisboetas merecem sempre mais..Presidente da Junta de Freguesia de Santo António, Lisboa