Um rapaz alegre e meigo que gostava de jogar à bola no jardim à frente da casa onde vivia com a avó
Um rapaz alegre e meigo que gostava de jogar à bola no jardim à frente da casa onde vivia com a avó, que muitas vezes o avisava da janela: "Cuidado com os vidros." Em tempos até teve uma "namoradita" da sua idade. Filipe era um jovem igual a tantos outros da sua idade -14 anos -, daí que a sua morte, alegadamente devido a agressões levadas a cabo por um amigo de 17 anos, tenha apanhado a vila de Salvaterra de Magos de surpresa. Filipe foi ontem encontrado numa arrecadação com o crânio esmagado - a polícia ouviu vários jovens, mas só um ficou detido e será hoje presente a tribunal.
A história trágica de Filipe começou na segunda-feira, quando saiu de casa por volta das 19.00 para ir ter com os amigos à Feira Magos, uma festa que está a decorrer na vila. Foi visto no recinto e depois desapareceu. Só ontem o mistério ficou resolvido com a descoberta do corpo do jovem.
A mãe tinha outra tese: "O Filipe foi assassinado, não se suicidou, e isto foi obra de vários e não de um só." Rita Costa deu o filho como desaparecido na madrugada de segunda-feira. Apesar de ter começado a procurá-lo às 22.00, foi já de madrugada que a mãe participou o desaparecimento na GNR de Salvaterra de Magos, que lançou um alerta nacional. As diversas diligências e buscas para encontrar o jovem foram todas infrutíferas.
Ainda na segunda-feira, Rita Costa, que vive separada do pai do menor, partilhou fotos do filho nas redes sociais, apelando a quem soubesse do seu paradeiro para que desse informações. O desaparecimento do jovem passou depois para a alçada da Polícia Judiciária, cujas investigações levaram à descoberta do corpo do adolescente morto, ontem, cerca das 09.30, na arrecadação de um prédio próximo da avenida principal.
A Diretoria de Lisboa da Polícia Judiciária confirmou ao DN que "está a decorrer uma investigação", sem adiantar mais pormenores. Segundo as informações que circulam em Salvaterra de Magos, foram interrogados pelo menos dois jovens mais velhos que eram vistos com Filipe no jardim em frente à casa dele e onde a mãe do único suspeito detido tem um café. Tanto os rapazes que foram interrogados como Filipe já tinham sido vistos a "fumar o seu charro". As autoridades ainda estão a tentar perceber os motivos do crime, tendo sido afastada a hipótese de rapto .
O único detido terá antecedentes criminais ligados a furtos e roubos e já esteve internado em centros educativos, segundo o DN soube junto de moradores. Era também este rapaz de 17 anos que teria as chaves do prédio onde o corpo foi encontrado, uma vez que em tempos morou ali. O dono do apartamento onde o rapaz viveu, que reside em Espanha, esteve ontem no local para se certificar de que a sua casa e a arrecadação não faziam parte do cenário do crime. Aparentemente, a arrecadação não pertencia a esse apartamento, seria a outra em frente, que tinha a porta arrombada.
Outro dos rapazes ouvidos pela polícia, que tem 20 anos, foi interrogado na quarta-feira à noite e voltou ontem à hora de almoço a ser levado pelas autoridades. A Polícia Judiciária terá chegado até ao grupo de suspeitos, depois de ouvir familiares, amigos e colegas do adolescente, que estiveram na segunda-feira à noite com Filipe Costa na feira. Além disso, os jovens teriam o telemóvel, as sapatilhas e o casaco de Filipe.
Rita Costa não quis entrar em pormenores "para não prejudicar o sucesso das investigações". A mãe conta que "já tinha suspeitas de que o Filipe estaria a ser assediado e ameaçado por outros jovens".
Vivia na casa da avó
O pai está fora do país, mas Rita faz questão de dizer que "nada falta ao Filipe, tem tudo, e talvez por isso lhe tenham feito o que fizeram". "É um bom rapaz, não fez nada para que lhe acontecesse isto."
Emigrado na Nigéria, onde trabalha em plataformas petrolíferas, o pai estaria já a regressar a Portugal. Ontem, quando soube da notícia da morte do neto, a avó materna que vivia com ele sentiu-se mal e foi transportada para o hospital. A mãe, apesar de não viver com o filho, ia visitá-lo todos os dias.
Filipe mudou-se há cerca de três anos para a casa da avó com a mãe - que chegou a gerir o café agora explorado pela mãe do suspeito detido e que ontem estava fechado. Rita Costa, entretanto, saiu de Salvaterra de Magos e foi viver para uma localidade próxima. Teve uma filha, agora com 2 anos.
Filipe ficou sempre em casa da avó. Frequentava o 6.º ano na escola secundária local e é descrito por antigos professores como um aluno "meigo, que quando se portava mal pedia desculpa e emendava o comportamento".
Apesar das dificuldades na escola, "porque era muito distraído e não se esforçava", andava sempre animado. "Tinha muito cuidado com a imagem, andava sempre a mexer no cabelo, a ajeitar a franja, com roupa a combinar", recorda uma professora. "De todos os meninos a quem dei aulas, nunca diria que o Filipe era rapaz para se meter em confusões. Isto tudo é muito estranho." É recordado ainda como um "miúdo muito pacato". Se às vezes tinha problemas com alguém no recreio, justificava-se dizendo que tinha sido provocado.