"Um raio de esperança" para os cereais ucranianos

Rússia e Ucrânia negoceiam na Turquia, com apoio da ONU, um acordo para tentar desbloquear as exportações via Mar Negro.
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O chefe da diplomacia ucraniano, Dmytro Kuleba, reiterou esta quarta-feira que a Ucrânia "não tem nada a discutir" em negociações de paz com a Rússia, devido à contínua agressão de que é alvo, lembrando que os objetivos de Kiev são "restaurar a integridade territorial e soberania plena no leste e sul" do país. Mas, paz à parte, na Turquia foram feitos avanços entre os dois lados que podem permitir desbloquear as toneladas de cereais ucranianos que estão presos no Mar Negro. "Um raio de esperança para aliviar o sofrimento humano e a fome em todo o mundo", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, que, apesar de estar otimista quanto a um acordo, lembra que este ainda não está concluído.

Naquele que foi o primeiro frente a frente entre os dois lados desde março, houve avanços suficientes para permitir uma nova reunião na próxima semana, indicou o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar. Foi ele o anfitrião do encontro, em Istambul, das delegações de peritos em Defesa russos e ucranianos, que conta também com o apoio das Nações Unidas. Pelo menos 130 navios carregados de cereais estarão no Mar Negro, bloqueados não só pelos navios de guerra de Moscovo, como pelas minas que Kiev espalhou para travar um ataque anfíbio.

A Ucrânia é um importante exportador de trigo e grãos como cevada e milho, além de fornecer quase metade do óleo de girassol que é comercializado em todo o mundo. Um obstáculo às negociações serão as suspeitas de que a Rússia estará a tentar exportar cereais ucranianos roubados das regiões que controla (22% das áreas de cultivo estão nas mãos de Moscovo), sendo que os russos também acusam a Ucrânia de queimar deliberadamente os campos e infestá-los de minas.

Ainda assim, e apesar de existirem outros entraves, ambos os lados admitem estar próximo de um acordo. A Rússia quer que os navios sejam alvo de buscas, de forma a evitar o eventual contrabando de armas, algo que a Ucrânia rejeita, podendo haver acordo para "controlos conjuntos", segundo o ministro da Defesa turco. Da mesma maneira, também pode estar garantida a segurança das rotas - uma possibilidade é navios turcos acompanharem os navios com os cereais por corredores seguros.

Apesar do avanço em relação ao tema dos cereais, no terreno continuam os ataques. Pelo menos cinco pessoas terão morrido em Mikolaiv (sul), onde, segundo Kirill Timoshenko, vice-chefe do gabinete presidencial, "um hospital e edifícios residenciais foram danificados". O número de mortes no ataque do fim de semana contra um prédio em Chasiv Yar (leste) subiu para 47, tendo mais corpos sido retirados dos escombros.

O Exército ucraniano avisa que a Rússia estará a preparar o seu ataque em Donetsk, com as suas forças numa pausa operacional para poderem reagrupar antes de se focarem na conquista das cidades de Slovyansk e Kramatorsk. Entretanto, a Coreia do Norte tornou-se no terceiro país a reconhecer a independência das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, depois da Rússia e da Síria. Kiev cortou relações com Pyongyang.

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