Todos os anos participo no concurso de queijos da Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios (ANILACT). Provo e avalio as novidades e além disso encontro-me com os melhores profissionais de lacticínios do país, numa espécie de convívio da elite queijeira nacional. Enquanto me acharem capaz da empreitada, jamais me farei rogado e comparecerei na prova cega mais exigente de todas: provar centenas de queijos às cegas, percorrendo todas as categorias registadas sem qualquer ideia de marca ou proveniência..Tomara muitos concursos ter tal gabarito, a concentração de especialistas é particularmente elevada. O termo industriais exclui por definição os produtores artesanais, que com as suas modestas produções não encontram aqui oportunidade de participar. Azeitão, Serra da Estrela, Serpa, Terrincho etc. não deixam contudo de participar, por isso é sempre de peito cheio que me entrego ao longo de três ou mais dias à avaliação. E há a certeza absoluta de que vai haver grandes surpresas..Devo a este colossal colectivo a eliminação do preconceito quanto às marcas e aparente força de mercado que comportam. Não só é tudo exactamente ao contrário, como é fundador e bom saber que uma grande marca de queijo precisa de substanciação de quantidade, para que se reconheça universalmente como grande. A montante, está invariavelmente uma bateria de profissionais de elevadíssimo nível que garantem aqueles aspectos para que olhamos muitas vezes de soslaio, mas sem os quais o queijo nem assunto sequer seria. Segurança e higiene, estabilidade, análises diversas e pureza da matéria-prima são algumas das garantias que há que reunir. E, claro, paixão, muita paixão..Tenho feito amigos para a vida toda, todos profissionais de mão cheia. Quem faz o trabalho "impossível" de coordenar este megaconcurso é Maria Cândida Marramaque, directora-geral da ANILACT, figura incontornável do sector e das suas muitas ramificações..Aconteceu na edição deste ano do concurso ter passado pela minha mesa de prova um queijo de ovelha que cumpria todos os requisitos que eu considero de excelência - genuinidade, intensidade e sabor - de resto reconhecidos por todos os jurados da minha mesa. Eu sou torpe e inexperiente na prova cega de queijos, mas os meus colegas não e rapidamente identificaram a amostra em prova; era o Serramonte, da queijos Santiago. Fez furor quando foi lançado, em 2019 porque foi galardoado como o melhor queijo de ovelha de cura prolongada. Deixou boa memória entre os jurados, tanto que foi rapidamente identificado, o que é um desempenho notável..Conheço o produtor, tem-nos dado grandes alegrias e é reconhecidamente respeitador das receitas ancestrais da família, produzindo queijos que sabem a sempre. Do modelo de há mais de cem anos até aos dias de hoje, quase tudo mudou mas mantém-se a lógica de sabor e busca intensa de qualidade..Conta com cinco unidades de produção, em Montemuro (Mafra), Monforte (Portalegre), Palmela (Setúbal), Ponte do Rol (Torres Vedras) e Pego (Abrantes). O nosso escolhido provém do Ribatejo, é feito com 100% de leite de ovelha português pasteurizado, tem doze meses de cura e segue um método tradicional de produção, com pormenores importantes como os queijos serem virados manualmente nas câmaras de frio com regularidade. Um detalhe que faz toda a diferença para a homogeneidade da massa do queijo, como tantos outros. Custa cerca de 17 euros/kg em supermercado e está disponível apenas em unidades de 1,650 kg..É uma delícia quando consumido com marmelada, na célebre apresentação romeu e julieta, tão bem inventada pelos nossos irmãos brasileiros, e genial quando acompanhado com um tinto velho ou um moscatel de Setúbal. Um queijo de sonho que nos faz sonhar. Boa prova!.Para saber mais, consulte queijossantiago.pt