Teatro. 'Deus. Pátria. Família' estreia-se hoje no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e fica em cena até 2.ª-feira. A peça, que reúne o compositor Luís Bragança Gil e a dramaturga Luísa Costa Gomes, recupera e recontextualiza tanto o repertório do período do Estado Novo como as várias canções de protesto cantadas no pós-25 de Abril.Luís Bragança Gil e Luísa Costa Gomes regressam ao Centro Cultural de Belém, onde há anos encenaram os recitais satíricos de música e poesia Libentíssimo (1999) e Libentíssimo 2 (2002). Assinam agora Deus. Pátria. Revolução, um musical que recupera e recontextualiza o repertório do período salazarista e do pós-25 de Abril. A peça que se estreia hoje, fica em cena até segunda-feira no CCB (Pequeno Auditório - Sala Eduardo Prado Coelho), e questiona as relações entre a música e as ideologias. .A ideia por trás deste projecto partiu do compositor e musicólogo Luís Bragança Gil, pouco depois de voltar a ouvir o ciclo Marchas, Danças e Canções de Fernando Lopes- -Graça. O "reencontro" com esta obra, de cariz antifascista, obrigou o compositor a interrogar-se sobre o modo como a ideologia afecta a produção artística. Levou-o também a tentar perceber até que ponto é possível "interpretar e ouvir [certas] músicas quando o contexto político e social mudou radicalmente"..Hoje, o criador sabe que apesar do passar do tempo ainda é possível ouvir estes temas, como evidencia o espectáculo Deus. Pátria. Revolução. No palco, marchas e cantares populares colidem com hinos fascistas e canções ultra-revolucionárias, mas é curioso comprovar como pode ser harmoniosa a transição de um hino salazarista para uma canção de Abril. .Esse é um dos maiores méritos de uma peça que coloca lado a lado canções de protesto e o hino do Benfica ou das claques do Sporting e do Porto, bem como um tema criado para uma campanha da Galp durante o Euro 2004; um espectáculo onde as canções de José Mário Branco, José Afonso ou Sérgio Godinho coexistem com a música ligeira e temas ligados ao regime de Salazar..Assim, durante perto de hora e meia, são apresentados quinze quadros, que variam entre peças mais complexas que colam e sobrepõem músicas de Fernando Lopes-Graça a cantares populares ou mesmo a hinos de futebol; e outros momentos mais contidos, que se resumem a uma canção. O segundo quadro, por exemplo, intitula-se Prólogo, e "vai do hino universal da Mocidade [Portuguesa] e do fascismo aos hinos revolucionários, chegando aos nossos tempos, quando só restam os hinos de futebol", refere o compositor Bragança Gil..O autor do musical faz porém questão de sublinhar que este não se esgota no simples revivalismo. "Não é isso que aqui se pretende, o gozo da peça está no cruzar de referências", que depois adquirem novos significados. De facto, é neste trabalho de colagem e reinterpretação, e também nos diálogos que se estabelecem entre os vários temas, que reside o interesse de uma peça que, segundo o autor, "só inclui músicas de outros" artistas. "Não há aqui nada meu, não alterei nada.".De facto, Luís Bragança Gil, o responsável pela direcção cénica e musical e pelas orquestrações, reproduz mesmo as partituras originais. Estas são interpretadas por um conjunto de músicos que inclui a Orquestra Aldrabófona, o coro Voces Caelestes e quatro solistas: Alexandra Moura (soprano), Inês Madeira (meio-soprano), Fernando Guimarães (tenor) e Rui Baeta (barítono). Os preços dos bilhetes oscilam entre os 12,5 e os 15 euros. |