Um negócio da China marca o fim da era Berlusconi no Milan

Silvio Berlusconi vende o histórico clube de Milão a grupo económico chinês, por 700 milhões de euros. É o fim de uma história de sucesso, que nos últimos anos entrou em declínio
Publicado a
Atualizado a

É mais um avanço chinês em busca do domínio do futebol mundial e, ao mesmo tempo, o fim de uma era num dos clubes mais emblemáticos da Europa: se tudo correr como previsto, na segunda-feira, 2 de maio, Silvio Berlusconi fecha um acordo preliminar para a venda do AC Milan ao Evergrande Real Estate Group (que tem entre os investidores Jack Ma, dono do gigante de comércio eletrónico Alibaba). Este negócio da China está avaliado em cerca de 700 milhões de euros.

Milão vive dias agitados, enquanto se prepara para voltar a assistir ao fim de uma era num dos ícones da cidade. Se em 2013 foi a família Moratti a vender o Inter a um grupo de investidores asiáticos (liderado pelo indonésio Erick Thohir), agora é o arquirrival AC Milan que se prepara para se despedir do patrono das últimas décadas. Ao fim de 30 anos de sucesso (cinco Ligas dos Campeões, cinco Supertaças Europeias, três Taças Intercontinentais/Mundiais de clubes, oito campeonatos, uma taça e seis supertaças de Itália) e declínio (sem troféus desde 2011), Silvio Berlusconi sai de cena.

Durante décadas, o polémico político e empresário usou o clube - que resgatou da Série B, em 1986 - como um trampolim para a ribalta eleitoral e económica. No entanto, agora, quase octogenário (completa 80 anos em setembro) e quando o partido Forza Italia e a empresa Mediaset estão longe dos tempos áureos, já tinha admitido "vender o Milan, desde que se assegure que ele fica em boas mãos". O momento chegou. E as mãos que vão receber o emblema rossoneri são as que mais dinheiro têm posto a girar no futebol mundial nos últimos meses - as de investidores chineses (no último mercado de inverno as equipas da 1.ª e da 2.ª liga da China gastaram mais de 400 milhões de euros em transferência).

Segundo a imprensa italiana, o negócio da venda da sociedade desportiva do AC Milan (99,93% das ações pertencem à Fininvest, de Berlusconi), intermediado pela Galatioto Sports Partners, tem como destinatário final o Evergrande Real Estate, grupo de negócios imobiliários que é dono do Guangzhou Evergrande (o mais bem-sucedido clube chinês de sempre) em parceria com a Alibaba, de Jack Ma. Está previsto que os chineses - com o apoio de Ma - comprem de imediato 70% das ações, recebendo os restantes 30% em 2017.

A "regeneração" do Milan também já terá moldes definidos, conta o Corriere dello Sport: Marcelo Lippi (treinador que levou a Itália ao título mundial em 2006) deverá ser o diretor desportivo; Roberto Donadoni é o preferido para treinador; Barbara Berlusconi (filha d"Il Cavalieri) fica como administradora-delegada responsável pela gestão comercial da marca AC Milan, enquanto o vice-presidente Adriano Galliani deixa San Siro; e chegam cem milhões de euros para comprar reforços no verão.

O método é semelhante ao que levou o Guangzhou Evergrande ao topo (é pentacampeão chinês e ganhou a Liga dos Campeões Asiáticos em 2013 e 2015): contratar jogadores e treinadores de elite mundial. Hoje, a equipa, que foi guiada por Marcelo Lippi até ao primeiro título continental, é treinada por Luiz Felipe Scolari (antigo selecionador de Portugal, campeão mundial pelo Brasil em 2002) e tem nas suas fileiras internacionais como Paulinho, Ricardo Goulart ou Jackson Martínez (antigo goleador do FC Porto).

Resta saber se o investimento chinês basta para recuperar a fé dos adeptos e pequenos acionistas do AC Milan, que ontem deixaram duras críticas a Galliani e a Berlusconi, numa assembleia geral de tom inflamado. O futuro o dirá.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt