Um implante no braço que serve para curar dependência de heroína

A buprenorfina, usada para tratar a dependência de opiáceos e para aliviar a dor, está agora disponível nos EUA em implantes
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Há uma nova forma de tratamento para os viciados em heroína e outros opiáceos. Recentemente, a Food and Drug Administration (FDA), agência responsável pela segurança dos medicamentos nos Estados Unidos, aprovou o uso de implantes subcutâneos de buprenorfina (opioide que diminui a dor) para reduzir os sintomas de abstinência continuamente durante seis meses. Esta substância já é usada na União Europeia desde os anos 1990, mas em comprimido ou adesivos.

Segundo o comunicado da FDA, os implantes destinam-se às pessoas que já são estáveis em doses baixas a moderadas de outras formas de buprenorfina como parte de um programa global de recuperação. Embora sejam eficazes, diz a agência, os comprimidos ou adesivos podem ser facilmente "perdidos, esquecidos ou roubados". Com o implante, estes problemas não se colocam e o doente deixa de se preocupar com a toma diária.

"O abuso de opiáceos tem tido um efeito devastador sobre as famílias americanas. Temos de fazer tudo o que pudermos, para ajudar os pacientes a recuperarem o controlo sobre as suas vidas", disse o comissário Robert M. Califf da FDA. Para os especialistas, estes implan-tes vêm aumentar as possibilidades de tratamento para quem sofre transtornos no uso de opiáceos e devem ser usados como parte de um programa, que inclui aconselhamento e apoio psicossocial.

Implantados na parte superior do braço, oferecem seis meses de tratamento. Por ser um método subcutâneo, só pode ser colocado ou removido por um profissional de saúde. E se for necessário um novo tratamento, poderá ser inserido um novo implante no outro braço.

Desde meados dos anos 1990 que os comprimidos sublinguais de buprenorfina são usados na União Europeia para tratar a dependência de opiáceos. Segundo João Curto, presidente da Associação Portuguesa de Adictologia, "não há dúvidas de que é um bom medicamento e tem vantagens, sendo até mais seguro do que a metadona". No entanto, o psiquiatra considera que "para quem tem problemas de dor pode ser uma solução, para que a pessoa não recorra a outros opiáceos", mas tem algumas dúvidas quanto à sua eficácia no tratamento da dependência de heroína. "Enquanto tratamento de substituição opiácea, não sei se será tão eficaz".

Já a anestesiologista Teresa Vaz Patto, do Centro Hospitalar de Lisboa Central, considera que "enquanto técnica poderá ter vantagens" no tratamento da dor, uma vez que os doentes "podem fazer a sua vida sem estar preocupados com o tratamento." Ressalvando que desconhece a dosagem aprovada pela FDA, diz que pode ser adaptada para uma "melhor terapêutica no tratamento da dor".

Diz a FDA que o tratamento com buprenorfina reduz os sintomas de abstinência de opiáceos e o desejo de os tomar, sem, no entanto, provocar os altos e baixos causados pelo mau uso ou abuso destas substâncias. Em "doses suficientes", também diminui os efeitos agradáveis de outros opiáceos, tornando-os menos atraentes.

A eficácia deste método foi testada num estudo clínico feito em adultos, que, no final, foram considerados estáveis, através de análises à urina. Tal como com os comprimidos, cerca de 64% dos dependentes da heroína não tinham consumido substâncias ilícitas ao longo do tratamento.

Quanto aos efeitos secundários mais comuns com este tipo de tratamento, a FDA refere a dor no local do implante, comichão e vermelhidão, dores de cabeça, depressão, constipação, náuseas, vómitos, dores nas costas e nos dentes.

Os doentes devem ser observados na semana em que é colocado o implante e é recomendado que sejam vistos pelo menos uma vez por mês durante os seis meses, nos quais devem continuar a ter apoio psicossocial.

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