Um homem e um empresário excecional
Rui Nabeiro foi um Homem excecional, deixando um legado e um exemplo notáveis. Foi um homem à frente do seu tempo, que soube manter-se jovem até aos noventa. Tinha uma energia, alegria e boa disposição contagiantes, a que juntava humildade e trato humano e pessoal aberto, que marcava todos os que com ele contactavam mais de perto.
A sua partida é uma perda importante para o país e em especial para o Alentejo. Deixa saudades.
Como empresário criou a partir do nada uma das maiores empresas portuguesas e uma das marcas mais reconhecidas em Portugal, destacando-se na forma como conseguiu afirmar-se no mercado ibérico, muito antes de os dois países terem integrado a Comunidade Europeia, num momento em que a maioria dos empresários via ainda as duas economias da Península de costas voltadas.
Mas mais importante é talvez o exemplo que sempre deu de humanista, de empresário que assumia a responsabilidade social com os seus trabalhadores, com a sua comunidade e com o seu país de uma forma integral. Hoje, a responsabilidade social das empresas é algo assumido como uma área que é importante ter em conta. Para Rui Nabeiro, esta preocupação já existia há 40 ou 50 ou mais anos, e era assumida não apenas como mais um aspeto a ter em conta, mas antes como algo central ao projeto e à cultura das suas empresas.
Esses valores fazem parte do universo da Delta e são uma das suas forças. É uma empresa que tive o prazer e a honra de visitar, em que se sente o amor à camisola e o orgulho de fazer parte do projeto em todos os trabalhadores. Este é um legado e um exemplo fantástico. De alguém que esteve à frente do seu tempo.
A Delta e Rui Nabeiro, são também um dos exemplos mais bem conseguidos de desenvolvimento regional. O Comendador demonstrou, numa região em que o envelhecimento e a saída de trabalhadores são uma realidade, que é possível remar contra a maré. O seu compromisso com Campo Maior e com o Alentejo é bem reconhecido.
As pessoas fazem a diferença. E Rui Nabeiro fez uma enorme diferença.
Foi uma pessoa que tive a honra e o prazer de conhecer antes de ser ministro e com quem estive várias vezes quando estava a servir como ministro. Lembro-me bem da visita à fábrica de Campo Maior, na inauguração da linha de montagem das máquinas de café. Aos seus 80 e muitos anos estava focado no futuro, em melhorar o serviço, melhorar a qualidade e inovar nos sabores e aromas do café e no desenvolvimento de máquinas que consumissem menos energia, de forma que fossem mais económicas e sustentáveis. Fui muito bem recebido por ele e por toda a sua família, de filhos e netos e também pela família Delta, em que os trabalhadores, com quem tinha uma relação de proximidade e cuidado, o consideravam como parte da sua própria família.
Deixa uma família, a quem sempre foi muito dedicado, com quem partilhava os valores de acordo com os quais vivia, que vai dar continuidade à sua obra.
A eles e a todos os trabalhadores da Delta deixo os meus sentidos pêsames.
Antigo ministro da Economia