Reações. "Um dos intelectuais mais marcantes da vida pública portuguesa"
Vasco Pulido Valente "nunca procurou nem pediu consensos", recorda a ministra da Cultura, que lamentou esta sexta-feira a morte de "um dos intelectuais mais marcantes da vida pública portuguesa dos últimos cinquenta anos". O historiador, cronista e ensaísta morreu esta sexta-feira no hospital, em Lisboa, onde estava internado. Tinha 78 anos.
Graça Fonseca lembra Vasco Pulido Valente como um "historiador rigoroso, sem os excessos do academismo canónico, foi uma voz dissonante e um olhar lúcido e crítico da política e da sociedade portuguesa, que nunca procurou nem pediu consensos".
Destaca a escrita "exemplar e limpa" do escritor, cujos textos "são um testemunho único sobre a nossa história, do período oitocentista e da Primeira República, do 25 de abril e da vida em democracia, fruto de um conhecimento muito profundo e sistematizado da realidade portuguesa".
Lembra que enquanto cronista, Vasco Pulido Valente "foi um crítico polémico e radical, até de si mesmo". "Mas nas suas palavras, que fizeram da exigência uma forma de nunca ceder, projeta-se uma forma de ver e entender Portugal que será memória perene do que somos, com o fio de pensamento e a argúcia de quem soube que a História era e será sempre maior do que os homens que a viveram", sublinha Graça Fonseca na nota de pesar enviada às redações.
A participação da vida ativa na vida política também é realçada por Graça Fonseca. "Vasco Pulido Valente desempenhou ainda as funções de Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro do VI Governo Constitucional, com responsabilidade na área da cultura, num momento definidor e de formação dos alicerces da nossa democracia", afirmou a ministra que envia "sentidas condolências" à família e amigos de Vasco Pulido Valente.
O presidente da Assembleia da República também manifestou o seu "profundo pesar" pela morte do historiador, escritor e cronista Vasco Pulido Valente, considerando que é uma figura "incontornável" do panorama cultural português e que deixou obra "significativa".
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa descreve o colunista Vasco Pulido Valente como "estrangeirado, pessimista, desalinhado, cáustico". "Uma das figuras mais marcantes do espaço público português em democracia", considera.
Numa nota publicada no portal da Presidência da República na internet, Marcelo Rebelo de Sousa elogia o seu "génio analítico, que não poupava ninguém".
"O Presidente da República, que inúmeras vezes foi, ao longo da sua vida, objeto dessa impiedosa independência crítica, e que sempre admirou muito, apresenta à família de Vasco Pulido Valente as suas sentidas condolências", acrescenta o chefe de Estado.
Nesta nota, Marcelo Rebelo de Sousa evoca Vasco Pulido Valente como "académico, historiador, jornalista, colunista, homem político" e considera que "foi uma das figuras mais marcantes do espaço público português em democracia".
"Escreveu na imprensa durante décadas, antes e depois da Revolução (O Tempo e o Modo, Almanaque, O Tempo, Expresso, Diário de Notícias, O Independente, Kapa, Público, Observador), publicou duas dezenas de livros e coletâneas de artigos, esteve à direita com a AD e à esquerda com o MASP, foi secretário de Estado da Cultura, diretor de jornal, deputado, professor no Instituto de Ciências Sociais e da Universidade Católica", recorda.
O chefe de Estado refere que, "do ponto de vista académico, ficou sobretudo conhecido pela tese de doutoramento sobre a República, obra revisionista e ainda hoje polémica", mas que "também escreveu estudos e ensaios biográficos acerca de figuras oitocentistas e novecentistas, privilegiando uma História narrativa, essencialmente política, que acentuava certos eternos retornos que seriam uma sina portuguesa".
No seu entender, Vasco Pulido Valente, "como colunista, esteve quase sempre 'às avessas', para citar o título de um dos seus livros".
O Presidente da República descreve-o como um "estrangeirado, pessimista, desalinhado, cáustico", que "era admirado como estilista mesmo por quem não partilhava das suas opiniões e humores" e que "tentou perceber Portugal, 'país das maravilhas' ao qual dedicou muitos sarcasmos, mas também o trabalho, a atenção e o empenho de toda uma vida, à vista de todos".
O primeiro-ministro, António Costa, considerou que Portugal perdeu um dos seus maiores cronistas da atualidade com a morte do historiador e escritor Vasco Pulido Valente, salientando a sua acutilância e argúcia.
"Portugal perdeu hoje um dos seus maiores cronistas da atualidade. Todos sentiremos falta da acutilância, da argúcia, até da irónica rispidez de Vasco Pulido Valente", afirmou António Costa na sua conta pessoal na rede social Twitter.
Na sua mensagem, o primeiro-ministro referiu-se também à obra literária de Vasco Pulido Valente. "Sempre marcantes as suas palavras, desde o incontornável O Poder e o Povo, passando pelo pujante 'Às Avessas' e à força inteligente das suas crónicas e comentários. Os meus sinceros sentimentos à família", escreveu António Costa.
"Ao tomar conhecimento do falecimento de Vasco Pulido Valente, não posso deixar de manifestar o meu profundo pesar pelo seu desaparecimento. Historiador, escritor, polemista e cronista de inegável inteligência e forte sentido crítico, Vasco Pulido Valente era uma figura incontornável do panorama cultural português, tendo deixado significativa obra, nomeadamente sobre o século XIX", escreveu Ferro Rodrigues, numa nota enviada à Lusa.
O presidente da Assembleia da República referiu depois que Vasco Pulido Valente integrou, como secretário de Estado da Cultura, o VI Governo Constitucional, "dirigido por Francisco Sá Carneiro, tendo sido apoiante de Mário Soares na sua primeira candidatura presidencial [em 1986]"
"Foi ainda deputado à Assembleia da República, na VII Legislatura, eleito como independente nas listas do PSD. À sua família e amigos endereço, em meu nome e em nome da Assembleia da República, as mais sentidas condolências", acrescentou Ferro Rodrigues.
O ex-líder do CDS, Paulo Portas, recordou Vasco Pulido Valente como "brilhante colunista político", a quem deve "uma amizade sem interrupção durante mais de 30 anos".
"Vasco Pulido Valente foi uma das pessoas mais inteligentes que conheci. Não preciso de exagerar ao dizê-lo", escreveu o antigo diretor do semanário O Independente, onde o historiador também foi diretor-adjunto, num depoimento por escrito à agência Lusa.
Para Paulo Portas, "foi o mais brilhante colunista político de O Independente -- e, nesse sentido, essencial para o êxito do jornal".
"Seguramente, foi o melhor historiador do século XIX português, e o mais luminoso de todos os que estudaram e escreveram sobre a I República - a meu ver, por exemplo, sem 'O Poder e o Povo', não é possível compreender e interpretar o século XX em Portugal", escreveu ainda.
Além do mais, acrescentou, "escrevia português com um primor inexcedível, o que não é coisa pouca nos tempos que correm".
Num registo mais pessoal, o fundador de OIndependente lembrou a amizade que o unia ao historiador.
"Devo-lhe muitas conversas de muitas horas sobre história, política, literatura ou viagens. Devo-lhe uma amizade sem interrupção durante mais de 30 anos", afirmou ainda Portas, que apresentou também condolências à família.
A direção do CDS-PP também lamentou a morte de Vasco Pulido Valente, um "homem livre" que será recordado como um "pensador notável" e um "embaixador ímpar da língua portuguesa", considerando que se trata de uma "perda irreparável".
A direção do CDS recorda-o como "historiador, ensaísta, professor, jornalista e analista político", mas, "sobretudo, [como] um homem livre".
"Livre das convenções do politicamente correto, livre da necessidade geral de agradar a quem o ouvia, livre das amarras de quem espera reconhecimento, desafiou com liberdade a classe política e agitou com humor as conceções dominantes", salienta o partido liderado por Francisco Rodrigues dos Santos.
Na opinião dos centristas, Vasco Pulido Valente "ficará gravado" na "memória coletiva" como "um pensador notável e um embaixador ímpar da língua portuguesa".
"Brilhante, de pensamento lúcido e de uma argúcia desconcertante, Vasco Pulido Valente marcou profundamente o seu tempo, e a sua partida representa uma perda irreparável na vida política e cultural portuguesas", salienta a nota da direção do CDS, que "lamenta profundamente" a morte do historiador e apresenta à sua família "as mais sentidas condolências".
"A minha admiração por Vasco Pulido Valente era mais do que fascínio intelectual. Era um verdadeiro culto. Culto à inteligência, culto ao humor e ironia, culto à língua portuguesa", escreveu o eurodeputado Paulo Rangel na sua conta na rede social Twitter.
O eurodeputado social-democrata considerou ainda que "morreu um grande, um dos maiores" e que "não havia quem escrevesse tão bem português" como Vasco Pulido Valente.
Vasco Pulido Valente morreu esta sexta-feira, em Lisboa, aos 78 anos. O seu corpo vai estar em câmara ardente a partir do próximo domingo, no centro funerário de Cascais, em Alcabideche.
Com Lusa