Um disco que nasce contra a tendência

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Teresa Salgueiro é um caso particular de amor à música. Desde muito cedo, começou a ouvir Amália Rodrigues, Sérgio Godinho, José Afonso, Chico Buarque, Elis Regina, Gal Costa, The Doors, os Rolling Stones, The Police, Pink Floyd ou The Cure.

Ainda menor de idade, com 17 anos, entrou para os Madredeus, com quem percorreu o mundo em extensas digressões que levaram a banda a vender cerca de cinco milhões de discos. Agora, e aproveitando um tempo de paragem indeterminado da sua banda de sempre, Teresa Salgueiro apresenta-se em nome próprio, apesar de continuar a cantar repertório composto por outros autores."O meu objectivo é poder cantar", diz-nos plena de convicção no seu trabalho. "Não vejo que seja uma forma de me afirmar fora dos Madredeus embora se trate de uma grande aposta pessoal", completa.

La Serena, o disco que nos traz à conversa com aquela que é uma das vozes mais internacionais do país, é composto por 19 escolhas pessoais de canções que fazem parte do imaginário popular. Desde La Vie En Rose, de Edith Piaf a Estranha Forma de Vida, de Amália Rodrigues passando pelo contemporâneo Velha Infância, dos Tribalistas. Não se trata de uma ruptura. Até porque recorda que "nas viagens dos Madredeus, o público pedia sempre para que fossem interpretadas canções locais".

Cantar temas de outros

Há um ano atrás, Pedro Ayres Magalhães desafiou-a a escolher alguns dos temas favoritos para posteriormente as entregar a Jorge Varrecoso Gonçalves, líder do Quinteto Lusitânia que se viria a transformar em Lusitânia Ensemble, pela introdução da percussão e do piano. "São canções clássicas mas muito variadas. A linguagem popular vai de encontro a um estilo mais erudito só que o Jorge é muito ousado nessa abordagem. As músicas acabam por ser diversificadas", explicou sobre a sonoridade deste La Serena. A Teresa Salgueiro coube um papel de interpretação diferente do original porque "cada pessoa tem o seu timbre", referiu. "Canto como sinto", defendeu ainda sobre os riscos de estar próxima de algum tema conhecido.

La Serena é um disco de versões tal como já havia acontecido com Você e Eu, que abordava o cancioneiro brasileiro de diferentes períodos. Para Teresa Salgueiro, "não há problema nenhum" nessa opção porque durante o seu percurso sempre cantou "originais", inclusivamente em Obrigado, um primeiro álbum a solo onde recolheu algumas gravações com outras vozes (José Carreras e Caetano Veloso, entre outros). "Nunca fui compositora, sou intérprete. Achei que tinha chegado a altura de cantar temas de outras pessoas. Nem sequer me passou pela cabeça pedir a alguém para compor para mim", contou ao DN.

Surpreendente é também o facto de Teresa Salgueiro arriscar fazer duas edições em nome próprio no mesmo ano, uma opção cada vez menos habitual num tempo de mudanças visíveis numa indústria do disco a viver evidente crise. "Ter dois álbuns [ambos editados em 2007] é um óptimo sinal porque as leis do mercado é que devem estar ao serviço da música e não o contrário. Para mim, é gratificante que as editoras tivessem acreditado nestes dois projectos porque investi muito de mim", revelou com orgulho por ter contrariado uma tendência.

Até ao fim deste ano, Teresa Salgueiro ainda vai dar voz a um terceiro disco, ainda que da autoria do compositor polaco Zbigniew Preisner. Silence, Night and Dreams é o resultado de um espectáculo já estreado em Atenas e que vai também passar por Londres.

Em mais um registo de mediatismo internacional, a sua voz foi escolhida para materializar o trabalho de um músico com uma carreira reconhecida. Por isso a cantora diz: " Para se ter sucesso no estrangeiro, há que batalhar. É necessário um grande investimento pessoal. É preciso ir lá, voltar e regressar as vezes que forem necessárias?"|

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