Quando em 2017, aos 31 anos, se tornou no mais jovem chefe de governo do mundo, Sebastian Kurz foi apelidado de Wunderkind ou Whizz-kid. Era um verdadeiro prodígio, sendo comparado pelos seus apoiantes a um Emmanuel Macron (o presidente francês) e pelos críticos a um Viktor Orbán (primeiro-ministro húngaro). Quatro anos depois, no meio de acusações de corrupção e pressionado pelos parceiros de coligação, Kurz demitiu-se. Para o substituir no cargo de chanceler escolheu o até agora chefe da diplomacia, Alexander Schallenberg, de 52 anos, que toma posse nesta segunda-feira..Schallenberg admitiu ontem que, ao assumir a chefia do governo, irá ter uma "tarefa extremamente desafiadora". Kurz demitiu-se depois de os Verdes, parceiros minoritários da coligação de governo, terem pressionado o Partido Popular Austríaco (ÖVP, na sigla original) a nomear um outro chanceler. Isto depois de, na quarta-feira, os procuradores terem revelado que Kurz e outras nove pessoas estavam a ser investigadas por suspeitas de terem usado dinheiro do Estado, entre 2016 e 2018, para garantir uma cobertura mediática favorável ao governo..Kurz entrou no ÖVP aos 16 anos, conseguindo o primeiro cargo no governo aos 25, como secretário de Estado para a Integração. Dois anos depois tornava-se chefe da diplomacia, ascendendo dentro do partido até à liderança em 2017. Apesar da sua juventude, foi eleito chanceler nesse mesmo ano, fazendo uma coligação de governo com a extrema-direita do Partido da Liberdade. Esta viria a desmoronar-se em 2019, por causa dos escândalos de corrupção a envolver os parceiros minoritários, com Kurz a perder uma moção de censura. Nas eleições antecipadas, o ÖVP voltou a ganhar, com Kurz a aumentar ainda mais a sua base eleitoral. Para ter a maioria, aliou-se desta vez aos Verdes..Agora, apesar de deixar a chefia do governo, quer ficar como líder parlamentar do ÖVP, pelo que este não deverá ser o fim da sua carreira política. O analista Thomas Hofer disse à AFP que Kurz continuará a ser "a pessoa mais influente dentro do ÖVP a nível nacional" e que, para ele, "Schallenberg é só um substituto temporário. Kurz agiu de tal forma que ainda tem o controlo do partido e ainda tem a equipa do governo no seu lado"..Filho de um diplomata e descendente de uma antiga família nobre que deve o seu apelido ao castelo de Schallenberg (apesar de se descrever como um "plebeu desde o nascimento"), o novo chanceler nasceu em Berna, na Suíça, onde o seu pai era embaixador, e cresceu na Índia, Espanha e França. Estudou Direito, mas acabaria por seguir uma carreira no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Em 2013 tornou-se num dos principais conselheiros de Kurz, quando este esteve na chefia da diplomacia..Em 2019, Schallenberg acabaria ele próprio por se tornar ministro desta pasta, no governo da independente Brigitte Bierlein - nomeada após a moção de censura a Kurz. E continuaria no cargo quando este voltou a ser eleito chanceler. Juntou-se ao ÖVP já neste ano, partilhando com Kurz as ideias em relação à política migratória. Defende que qualquer política de redistribuição de refugiados na União Europeia só resulta em mais fluxos de refugiados..susana.f.salvador@dn.pt