"Um dia teremos de pedir a todas as mulheres que usem hijab", disse presidente

Há quem peça a demissão do presidente da Áustria após este defender o direito das mulheres muçulmanas de usarem hijab
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O presidente da Áustria Alexander Van der Bellen está a ser fortemente criticado por ter sugerido que um dia todas as mulheres usarão hijab, véu islâmico que cobre a cabeça, para combater a islamofobia, e ter defendido o direito das mulheres muçulmanas de usarem este lenço se quiserem.

"Se a islamofobia continuar a propagar-se, vai chegar o dia em que teremos de pedir a todas as mulheres para usarem lenços na cabeça", disse o presidente num discurso para estudantes na Casa da União Europeia, em Viena. "Todas, por solidariedade a quem o usa por motivos religiosos", continuou Van der Bellen, que diz que as mulheres têm o direito de vestirem o que quiserem. "E isto não se aplica só às mulheres muçulmanas".

As declarações do presidente foram feitas a 24 de março e passaram despercebidas na altura. Apenas recentemente provocaram controvérsia, quando foram incluídas numa reportagem que fazia o balanço dos primeiros 100 dias de Van der Bellen no cargo.

O presidente, que era líder do partido de esquerda, venceu por pouco em janeiro ao candidato de extrema-direita, que se opunha a imigração de muçulmanos e usava um tom populista, segundo o Washington Post.

"Isto não é muito rebuscado", continuou Van der Bellen, contando que dinamarqueses não judeus usaram a estrela de David durante a ocupação alemã da Dinamarca na Segunda Guerra Mundial, por solidariedade ao povo judeu. Esta história poderá não passar de uma lenda urbana, segundo o site de factos históricos Snopes.

Na Áustria é proibido o uso de véus que cubram a cara, como a burca, mas nada impede o uso do véu islâmico hijab.

A permissão ou não de usar véus islâmicos é um tema controverso neste país e o discurso de Van der Bellen tem gerado um grande debate. Nas redes sociais, vários utilizadores pediram que o presidente se demitisse e ele tem sido criticado em páginas da extrema-direita, como o site norte-americano Breitbart News.

"Não sou apoiante do lenço na cabeça mas há liberdade de expressão na Áustria", afirmou o presidente esta semana durante uma visita à Eslováquia.

Como parece não ter sido suficiente, o gabinete presidencial publicou esta quarta-feira no Facebook um comunicado oficial em que diz que as declarações polémicas foram em resposta a um aluno que tinha perguntado se banir o hijab iria afastar as mulheres do mercado do trabalho.

O presidente estava, então, a comentar sobre o estigma que afeta as mulheres que usam o lenço, segundo o comunicado. Van der Bellen concorda que, em algumas circunstâncias, o lenço deve ser banido mas também outros símbolos religiosos.

No comunicado, Van der Bellen falou também sobre o "racismo do outro lado", e deu o exemplo de um taxista muçulmano que se recusava a aceitar clientes judeus ortodoxos.

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