Um concerto em Moscovo a celebrar uma longa amizade

O DSCH-Schostakovich Ensemble do pianista Filipe Pinto Ribeiro toca hoje em Moscovo. Evento integra o programa com que se assinala os 240 anos das relações diplomáticas entre Portugal e a Rússia.
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Deve-se a duas rainhas, D. Maria I e Catarina, a Grande, o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países situados nas extremidades da Europa, corria o ano de 1779. Agora, 240 anos depois, os ministérios dos Estrangeiros de um e outro país quiseram assinalar com várias iniciativas essa data, incluindo, naturalmente, no plano cultural.

É aqui que se inscreve a deslocação a Moscovo do DSCH-Schostakovich Ensemble, de que o pianista português Filipe Pinto Ribeiro é fundador e diretor artístico. Deslocação que se concretiza numa parceria da Embaixada com o Conservatório de Moscovo, e com o apoio do Instituto Camões e da DGArtes.

O formato que se apresenta hoje na Sala Pequena (ou Sala de Recitais, com cerca de 400 lugares) do Conservatório de Moscovo é o de trio com piano, acompanhando Filipe o violinista Corey Cerovsek e o violoncelista Adrian Brendel.

Para o embaixador português, Paulo Vizeu Pinheiro (em funções desde setembro de 2017), "o facto de o Filipe ser um diplomado [Doctor of Musical Arts] do Conservatório de Moscovo foi um factor considerado - é como se ele próprio encarnasse a cooperação Portugal/Rússia. Mas mesmo que não houvesse isso, a carreira que o Filipe desenvolveu desde então mais do que justificaria a vinda dele aqui." O embaixador crê que "para os russos, é também motivo de orgulho verem um pianista formado na sua "casa" e que "bebeu" da sua escola pianística. E depois, o Filipe é um reconhecido intérprete da música de Dmitri Shostakovitch, que é um autor do panteão nacional musical russo".

Mas a ida de Filipe também se reveste de um significado pessoal para o diplomata: "Na verdade, nós conhecemo-nos justamente em Moscovo, em 1998 ou 1999, quando eu era cônsul nesta cidade. E também foi aqui que o Filipe e a mulher [a peruana Rosa Barrantes, também pianista] se conheceram."

O recital de hoje terá uma sequela amanhã, aí na Embaixada, e no formato de recital de violino e piano: "O Filipe irá tocar num piano que ele próprio descobriu e recomendou que adquiríssemos, há 20 anos! Nesta ocasião, estará o corpo diplomático, representantes do ministério dos Estrangeiros russo e do município de Moscovo."

Para Filipe Pinto Ribeiro, cada vinda à Rússia tem algo de muito especial: "São sempre experiências muito gratificantes e únicas, porque o público russo sente a música como algo essencial. Tem uma predisposição rara para ouvir e sente-se neles uma intensidade de escuta que é difícil de encontrar noutros locais!" Um regresso que termina um hiato de cerca de nove anos: "De facto, eu toquei na Rússia em várias ocasiões, quer em Moscovo, quer em São Petersburgo, na primeira década do século, seja a solo, em música de câmara ou com orquestra. Mas creio que a última vez já fora em 2010." E será outrossim ocasião para um reencontro muito especial: "Irei rever a minha professora, Lyudmila Roschina, que tem agora 91 anos e que recebeu este ano a Medalha de Ouro do Conservatório."

Sobre a sala, refere que "é uma sala histórica, onde se fizeram muitas estreias, inclusive de obras de Shostakovitch, e tem uma acústica impressionante. E é histórica também para mim, pois foi ali que realizei o meu recital final de Doutoramento!"

O recital desta tarde (19.00 locais) terá três obras de Shostakovitch e duas de Mozart e serve em paralelo, diz-nos, de "lançamento oficial aqui do nosso duplo CD com a integral das obras para piano e cordas de Shostakovitch, havendo incluive uma sessão de autógrafos a seguir ao concerto." Já amanhã, na Embaixada, revela, "iremos tocar obras de Tchaikovsky, Mozart, Sarasate, Arvo Pärt e Vianna da Motta."

A música voltará a fazer parte do "plano de eventos" delineado pelas duas embaixadas já em outubro: "Iremos ter aqui o Luís Guerreiro, em guitarra portuguesa. E, se tudo correr bem, será um "duelo" de guitarra portuguesa vs. guitarra russa", adianta Paulo Vizeu Pinheiro. "A Rádio Moscovo dedica uma hora ao fado aos domingos à noite e esse programa, chamado "Fala Moscovo", no qual eu próprio já fui convidado para falar, leva com regularidade fadistas a Moscovo", acrescenta.

Tudo considerado, o embaixador Vizeu Pinheiro fala de "uma agenda cultural, distribuída pelas várias expressões artísticas, que dá ao nosso país destaque e visibilidade na capital russa", destacando a grande exposição "Senhores do Oceano", dedicada aos descobrimentos portugueses, "feita em colaboração com os Museus do Kremlin e que foi um enorme sucesso de público."

Ação, enfim, que vem na esteira das relações diplomáticas oficiais: "A agenda bilateral avançou muito neste último ano e colocou Portugal claramente na zona dos "países amigos" da Rússia.", diz a concluir.

FICHA

DSCH-Schostakovich Ensemble

Sala de Recitais do Conservatório de Moscovo (hoje)

Obras de Mozart e Shostakovitch

Embaixada de Portugal (amanhã, dia 10)

Obras de Tchaikovsky, Mozart, Vianna da Motta, etc.

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