Um clube dividido entre o futsal e a ação social
Está a nascer um novo pavilhão desportivo na Quinta da Calçada, que no final da década de 30 do século passado recebeu alguns dos desalojados de um grande incêndio no antigo bairro das Minhocas, onde é a estação de comboios do Rego.
Agora, paredes-meias com a Segunda Circular, aquela comunidade de mais de duas mil pessoas vive em redor do Grupo Desportivo e Cultural Fonsecas e Calçada. Nome invulgar que surgiu em homenagem às urbanizações da Quinta da Calçada e do Bairro das Fonsecas. Raúl Silva foi o grande impulsionador do clube. Era ele que juntava os miúdos daquela zona para participarem nos antigos Jogos de Lisboa. "Durante três gerações, o senhor Raúl tinha uma enorme vocação para mobilizar os jovens para irem jogar aos mais diversos pontos da cidade, fazendo-os deslocarem-se de autocarro ou táxi", conta ao DN Sérgio Lima, de 35 anos, orçamentista de profissão, que ocupa grande parte do seu tempo livre a exercer, por carolice, as funções de presidente do Fonsecas e Calçada.
A realidade é hoje diferente. O clube, que pertence à freguesia de Alvalade, tem cerca de 80 praticantes de futsal desde o escalão de benjamins até aos seniores, e tem uma parceria com o Belenenses para onde são canalizados os principais talentos, em troca de alguns jogadores emprestados para a equipa principal, que milita na Divisão de Honra da Associação de Futebol de Lisboa.
O nascimento do pavilhão no local onde até há bem pouco tempo era um ringue com uma cobertura será um importante impulso na vida do clube. "Temos seis equipas nos vários escalões e, face à ausência de instalações, estamos a gastar cerca de 18 mil euros por época, pois os jogadores têm agora de se deslocar nas nossas duas carrinhas para os treinos e jogos em Sacavém, onde temos de alugar o pavilhão", revelou Sérgio Lima, ansioso pela conclusão da nova casa, que deverá estar pronta lá para o mês de janeiro.
"Este pavilhão foi uma promessa de André Caldas, presidente da Junta de Freguesia, quando ainda era candidato ao cargo", refere o líder do Fonsecas e Calçada, que aproveita para mostrar o grau de ligação da coletividade à população: "Na altura das eleições autárquicas mobilizámos as pessoas do nosso bairro para elegerem este presidente da Junta devido à promessa do pavilhão e a verdade é que ele foi eleito e cumpriu a promessa."
Ao lado do pavilhão está a sede do clube, onde funciona um café-restaurante, que representa uma das escassas fontes de receitas do clube. A outra é as quotas dos seus 120 associados (1,5 euros, sendo que os reformados só pagam 75 cêntimos). "Nem dá para pagar a tv cabo", sublinha Sérgio Lima, acrescentando que se trata apenas de "um valor simbólico para manter a população ligada ao clube". As festas das cidade, colónias de férias que costumam ter entre 40 e 50 crianças, garraiadas e muitas outras iniciativas representam ainda uma grande importância no que se refere a fontes de rendimento.
A par da vertente desportiva, a coletividade criou recentemente a Associação Desportiva e Social da Quinta da Calçada, um projeto social com valências importantes para a população. "Procuramos desta forma envolver mais pessoas. Tudo começou com iniciativas de ajuda aos sem-abrigo, mas agora temos um serviço de apoio aos idosos, aos quais também lhes damos formação de novas tecnologias. Temos ainda teatro e marchas", refere.
As marchas de Lisboa são, afinal, a grande aposta do Fonsecas e Calçada. "No próximo ano vamos iniciar-nos nas marchas para que em 2018 possamos concorrer às Marchas de Lisboa", revela Sérgio Lima, que se orgulha da montra de troféus já alcançados pelo clube em 21 anos de existência: "Tirando os grandes clubes é difícil que outro clube lisboeta tenha um troféu nacional [campeão da III Divisão] e tantos troféus regionais em tão pouco tempo."
O DN está a publicar uma série de reportagens dedicadas à sua nova vizinhança, junto às Torres de Lisboa.