Quem anda pelas ruas de Setúbal provavelmente já reparou em obras de arte coloridas coladas nalguns prédios da cidade. O autor destas figuras não assina as suas peças, mas denomina-se como Chinelo e o DN esteve à conversa com ele..Do seu sketchbook para a rua, Chinelo não pretende transmitir uma mensagem própria com os "seus bonecos", mas sim criar diálogo entre as pessoas. Descreve a sua arte como intuitiva e espontânea. "Acho muito engraçado as pessoas darem uma perspetiva completamente diferente daquilo que eu tinha imaginado. E isso é que começa a criar conversas", explica o jovem..O ponto de encontro com Chinelo foi no Largo de Jesus, em Setúbal, onde tudo começou há 11 anos. Atualmente este espaço encontra-se muito diferente do que era antigamente. Onde hoje é um plano jardim, outrora foi um parque de skate, que também servia para muitos como uma tela para grafittis. Foi aqui que descobriu a sua paixão pela arte..Não foi um caminho consistente. "Durante muitos anos esqueci-me que gostava de desenhar. Eu sentia que me faltava qualquer coisa, mas não sabia o quê. Desde pequenino dizia que queria ser arquiteto. Na minha ideia de criança achava que era a única forma de viver a desenhar. Depois a minha vida mudou muito. No início adolescência separei-me de muita coisa e deixei de desenhar", relembra o artista, que para já prefere manter a sua verdadeira identidade no anonimato..Passados alguns anos, em Praga, na República Checa, voltou a inspirar-se e, através dos contactos que foi desenvolvendo enquanto trabalhava, foi convidado para fazer uma exposição com as suas colagens. Já há muito que sentia curiosidade por parte das pessoas em ver as suas ilustrações e decidiu aproveitar a oportunidade.."Quando fiz essa exposição não era nada elaborada, nunca quis fazer uma coisa muito bonita era mais pela mensagem em si. Queria transmitir pensamentos, só. Quando acabou a exposição tinha aquilo tudo em casa e pensei que era engraçado começar a colocar na rua". E assim foi..Começou nas ruas de Praga com um ato de amor. "Estava apaixonado por uma rapariga lá", revelou. Cortou umas flores em K-Line e colocou-as durante a noite na rua dela. "Não correu bem, mas correu bem por outro lado", contou a rir. Na mesma noite, colocou uma outra peça numa estação de metro na capital checa e até hoje nunca mais parou de partilhar a sua arte pelas ruas..Os locais escolhidos para a colocação das peças não têm propriamente um significado especial. "Tento sempre procurar um sítio onde encaixe melhor", explica. Em frente à Casa da Cultura, na Travessa do Palhão e na Rua Cidade da Beira, são alguns exemplos..Tem a perfeita noção de quando as coloca na rua podem permanecer dias ou apenas algumas horas, mas isso não o impede de continuar. A única forma de as eternizar é fotografando-as e/ou filmando-as no local sempre que possível. Mais tarde partilha estes registos no seu Instagram, que sonha mais tarde transformar num livro..vanessa.neves@globalmediagroup.pt