Um belo filme português em forma de confissão
Há um cinema português que não se instalou nos territórios saturados da telenovela e que, contra todos os seus lugares-comuns psicológicos, não desiste de colocar em cena pessoas muito vivas. Pessoas e coisas. Por vezes, através de inusitados desvios pelos territórios documentais.
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Assim acontece neste belíssimo filme confessional (que terá um parente distante no JLG por JLG que Jean-Luc Godard filmou em 1994): um documentário em que Jorge Silva Melo evoca a sua formação de espetador e o seu trabalho teatral, nomeadamente com os Artistas Unidos, a pouco e pouco transfigurando-se em espelho desencantado das alegrias e desilusões de toda uma geração e, no limite, em renovada interrogação das marcas e silêncios da identidade portuguesa. Tudo isso através de uma subtil travessia de cidades, de Lisboa a Roma, da palavra intimista ao elogio da intimidade dos atores e com os atores. É um filme na primeira pessoa que, serenamente, devolve a questão ao espetador: que significa dizer "eu"?
Classificação: ****