Um acordo para uma Europa melhor

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No passado dia 19 de fevereiro, no final de uma longa e por vezes difícil negociação no Conselho Europeu, o primeiro-ministro David Cameron anunciou ter garantido um novo acordo para o Reino Unido na UE.

Durante muitos meses, trabalhámos intensamente com os nossos parceiros e amigos para chegarmos a este ponto. Como disse o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros no dia 25, os líderes europeus investiram coletivamente um enorme capital político para ir ao encontro das preocupações britânicas. O meu primeiro-ministro já expressou a sua gratidão - em público e em privado - pela paciência, a boa vontade e o apoio de todos, incluindo o primeiro-ministro António Costa, no sentido de nos ajudarem a alcançar estas reformas substanciais.

Mas agora, como seria inevitável, a perspetiva alterou-se. O governo propôs a realização do referendo a 23 de junho e de agora até quatro semanas antes do referendo, o PM Cameron fará campanha para que o Reino Unido permaneça numa UE reformada. Na base da campanha está a sua firme convicção de que o Reino Unido estará melhor, mais forte e mais seguro numa União Europeia reformada.

Em primeiro lugar, seremos mais fortes dentro da UE do que isolados. A nossa influência global fica reforçada por sermos um dos principais Estados membros do maior espaço comercial do mundo. Podemos desempenhar um papel principal numa das maiores organizações do mundo a partir de dentro, contribuindo para as grandes decisões - como fizemos na resposta ao ébola, ajudando o Irão a sair do isolamento internacional e combatendo o tráfico de pessoas no Mediterrâneo.

Ao longo da história, a nossa força como nação deriva da forma como soubemos olhar para lá das nossas fronteiras e abrindo-nos ao mundo. E hoje a UE, tal como a NATO ou a ONU, é um instrumento fundamental - para nós e para outros Estados membros - para aumentar a nossa influência e multiplicar a capacidade de promovermos os nossos interesses comuns.

Em segundo lugar, acreditamos que o Reino Unido ficará mais seguro permanecendo dentro de uma UE reformada. Hoje em dia nós - tal como outros Estados membros incluindo Portugal - enfrentamos uma série de ameaças contra a nossa segurança, desde o terrorismo ao crime organizado, do tráfico de seres humanos aos ataques informáticos. Para erradicarmos estas ameaças deveremos trabalhar em conjunto, na mais estreita colaboração possível entre países, em particular com os nossos parceiros europeus.

E por último, o governo britânico considera também que ficamos melhor dentro de uma União reformada porque as empresas britânicas continuarão a ter acesso a um mercado único de comércio livre de 500 milhões de pessoas. Este é um fator importante para a criação de emprego, para o investimento e para a segurança financeira do nosso país - à semelhança do que acontece também com Portugal.

Como David Cameron tem dito, não devemos esquecer a razão da existência da União Europeia. E nunca devemos dar por garantidas as suas grandes conquistas - a paz e a estabilidade no continente europeu. Ainda hoje o nosso mundo é um lugar incerto, com ameaças vindas de vários pontos contra a nossa segurança e a nossa existência. Este é o tempo para ficarmos unidos; um tempo para mostrarmos como juntos somos mais fortes. Apesar de todos os seus defeitos, virar as costas à UE não é uma solução.

Se o Reino Unido decidir continuar na UE, o meu governo quer fazê-lo com a mentalidade de um líder, com uma posição forte na Europa, mantendo a UE como um mercado livre, competitivo e voltado para o exterior, e empenhada em vencer os desafios de uma economia globalizada.

Podemos assumir esse papel, porque a Europa está a mudar. Face às ameaças graves e complexas que a União enfrenta, a conclusão automática de que "mais Europa" era sempre a única solução está a mudar. Em vez disso, a resposta deverá ser "melhor Europa", reconhecendo que - paralelamente às muitas áreas em que a UE introduz um valor acrescentado e corresponde aos objetivos dos seus membros - há naturalmente outras em que faz mais sentido que as decisões sejam tomadas a nível nacional ou mesmo local. Esta é a chave para garantir que as nossas populações sintam que a sua voz é valorizada e se sintam interligadas no seio da UE.

E se o Reino Unido decidir ficar, os nossos aliados europeus não terão de se preocupar com um Reino Unido a descansar sobre os louros. Não; devem esperar um Reino Unido disponível para desempenhar um papel de liderança no centro da UE, uma União que deverá manter-se num processo constante de adaptação a novos desafios e oportunidades, para benefício de todos os Estados membros.

Ao longo dos próximos meses antes do referendo, o meu primeiro-ministro fará campanha de "alma e coração" para que o Reino Unido permaneça numa UE reformada - porque acredita que essa permanência torna o Reino Unido melhor, mais forte e mais seguro. E no dia do referendo será o povo britânico a decidir.

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