Um acordo ao ritmo de outras alianças

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No debate de há uma semana, José Sócrates e Paulo Portas já não conseguiram disfarçar os laços de interesses que os aproximavam na negociação do Orçamento do Estado. Com o PSD irredutível a um canto, restava ao Governo cativar o ambicioso CDS, explorando o facto de Portas ter preparado habilmente o seu programa eleitoral para acordos com qualquer dos partidos do bloco central. Na manga, Sócrates manteve ainda uma carta relevante, daquelas que mesmo antes de serem jogadas influenciam o jogo do adversário: a comissão parlamentar de inquérito às contrapartidas militares. Uma proposta do bloco - só possível de consumar com o apoio do PS ou do PSD -, que tem o caso do submarinos como alvo principal.

Quando o PSD se consciencializou da forma como o CDS estava a explorar a sua irredutibilidade, enfureceu-se, primeiro, e reagiu depois. Mas o atraso já era grande. Quem sabe, demasiado grande. Para o PSD e, mais grave, para o País, que sem um acordo do Governo com o maior partido da oposição terá dificuldade em tirar do pescoço a corda que as agências de rating ameaçam puxar a Portugal.

Ferreira Leite sabe que, perante a estratégia arriscada de Sócrates, este é dos seus mais valiosos argumentos. Por isso, avançou e reposicionou-se, mudando o acento para o "interesse nacional". A reunião de hoje é decisiva, mas já não para garantir a aprovação do Orçamento do Estado. Essa foi assegurada ontem no encontro Sócrates-Portas, já depois de o PS ter recuado no subsídio de desemprego para casais desempregados exigido pelo CDS, contrariando até o que a ministra da Segurança Social e do Trabalho dissera dois dias antes.

Neste cenário, Paulo Portas é o primeiro grande vencedor. E já nem o mais inesperado volte-face lhe retiraria um protagonismo que será, decerto, recompensado nos índices de popularidade.

José Sócrates tem tudo para segui-lo - e até superá-lo -, mas para isso tem de ser capaz de alargar o entendimento ao PSD. Sem isso, será sempre uma vitória parcial e, sobretudo, muito arriscada para o futuro do País. Sentido de Estado determinante também para Ferreira Leite, que deve ter aqui o seu último grande momento político. Se a coerência lhe condiciona a margem para recusar um acordo razoável, a liderança a prazo favorece a tentação de tentar levar o Governo ao limite. Sendo certo que o passo que deu quando viu o CDS na dianteira parece ser sinal de que tem uma estratégia sólida para hoje.

No túnel da Luz também se joga

Nos últimos dias corriam rumores de que as gravações dos incidentes do túnel da Luz, ocorridos após o último Benfica-FC Porto, estavam prestes a ser divulgadas. E como há muito o futebol português é fértil em coincidências antes que alguém mostrasse Hulk e Sapunaru a agredir um funcionário do Benfica, um anónimo mecenas divulgou um vídeo em que se vê um segurança do Benfica a agredir um funcionário portista. Tristes imagens, as que se conhecem e as que faltam conhecer. Provas de que ninguém é inocente e que os discursos de inocência - verdes, azuis ou encarnados - são meros hinos à hipocrisia.

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