Há três anos, Jean-Claude Juncker afirmou que não haveria um alargamento nos seus cinco anos de mandato como presidente da Comissão Europeia. Mas agora, o objetivo do luxemburguês é, antes de abandonar funções, deixar estabelecida uma rota de entrada para os próximos Estados membros, vindos dos Balcãs Ocidentais. A estratégia de Bruxelas para a região será tornada pública em fevereiro e aponta Montenegro e Sérvia como os países que entrarão no bloco em 2025.."Os parceiros dos Balcãs Ocidentais têm agora uma janela de oportunidade histórica. Pela primeira vez, a sua perspetiva de adesão tem o melhor prazo", refere o projeto de documento a que o EUobserver teve acesso. "Com uma forte vontade política, a concretização de reformas reais e soluções duradouras para disputas com vizinhos, Montenegro e Sérvia devem estar prontos para a adesão em 2025", pode ler-se no mesmo esboço.."O alargamento para os Balcãs Ocidentais é importante para os países da região porque irão ganhar economicamente por serem incluídos no mercado interno da UE e porque irá assinalar o ponto final do longo processo de transição que começou com o colapso da Jugoslávia e as guerras civis dos anos 90", explicou ao DN Ian Bond, diretor de Política Externa do Centro para a Reforma Europeia..Para o especialista, na perspetiva na União Europeia, este alargamento tem um significado "primariamente político (quaisquer ganhos económicos serão pequenos) - a UE está a mostrar que se mantém aberta a países que cumprem os critérios para se tornarem Estados membros; e espera também que a adesão à UE consolide a estabilidade regional, como aconteceu na Europa Central", acrescentou..A escolha destes dois países não causa surpresa, pois um documento da Comissão Europeia sobre os possíveis Estados membros vindos da região divulgado no final de 2017 dava o Montenegro e a Sérvia como os favoritos à adesão..Podgorica está a negociar a sua entrada desde 2012 e tem o seu processo de adesão mais avançado, tendo sido já elogiado por Bruxelas como tendo o maior nível de preparação entre os Estados que estão em negociações - dos capítulos de negociação (áreas nas quais o país candidato tem de alinhar-se com a UE, e que vão desde a liberdade de movimentos de bens estrangeiros e política de defesa) três estão provisoriamente fechados, 28 abertos e sete por começar. Tem ainda a curiosidade de, devido ao facto de não ter uma moeda própria, usar o euro desde a sua introdução, apesar do descontentamento de Bruxelas e Banco Central Europeu..Belgrado começou dois anos depois, tendo apenas dois capítulos provisoriamente encerrados, dez abertos e 25 ainda por abordar. O processo da Sérvia tem sido mais turbulento devido, inicialmente à sua falta de compromisso em colaborar com o Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia e em prender Ratko Mladic, mas também pela relação com o Kosovo (que declarou unilateralmente a sua independência da Sérvia em 2008), entre outros. Motivos que levaram, em ocasiões diferentes, países como Holanda, Bélgica e Lituânia a recusarem assinar o acordo de associação com a Sérvia.."Montenegro e Sérvia fizeram os maiores progressos, fecharam a maioria dos capítulos. Mas mais uma vez, enquanto que o progresso no papel tem sido bom, os dois países sofrem de um grande défice democrático - captação do Estado e corrupção - no presente. É importante que o período antes da adesão seja usado para verdadeiramente reformar as instituições", defendeu, em declarações ao DN, Tena Prelec, investigadora associada na LSEE-Investigação sobre a Europa do Sul da London School of Economics..A questão do Kosovo poderá ainda vir a prejudicar tanto a Sérvia, como o próprio Kosovo, um potencial candidato à adesão, apesar de cinco Estados membros ainda não reconhecerem a sua independência de Belgrado. "Uma abrangente normalização das relação entre a Sérvia o Kosovo na forma de um acordo vinculativo legalmente" será "crucial" para ambos, refere o documento que será apresentado por Bruxelas em fevereiro. Esta semana, a Sérvia abandonou as conversações em Bruxelas sobre o melhorar de relações com Pristina na sequência do assassinato de Oliver Ivanovic, um político sérvio, no Kosovo..Albânia e a Antiga República Jugoslava da Macedónia deverão começar as negociações de adesão à UE no próximo ano, desde que Tirana implemente reformas na justiça e Skopje resolva a sua disputa com a Grécia por causa do nome do país (existe uma região grega chamada Macedónia). Os dois países encontraram-se esta quarta-feira na sede da ONU, havendo abertura para resolver a questão ainda este ano. "A Bósnia e Herzegovina é um potencial candidato, mas o seu sistema político disfuncional está a atrasá-lo", lembra Ian Bond. O documento de estratégia para os Balcãs Ocidentais, segundo a Radio Free Europe, prevê que Sarajevo inicie as negociações de adesão em 2023..O outro país com negociações abertas é a Turquia, mas a suas hipóteses "na próxima década parecem muito pequenas". A Turquia está a seguir numa direção autoritária, tornando-a muito um potencial Estado membro muito menos atrativo; e o sentimento anti-turco está a crescer entre os Estados membros da UE (o novo governo austríaco gostaria que as negociações de adesão terminassem formalmente)", afirmou o diretor de Política Externa do CRE.