TV Marcelo. E Cristo desceu à Terra
Nada de novo, afinal. Se foi ao domingo à noite que o professor Marcelo foi construindo, anos a fio, o presidente Marcelo, bateu tudo certo. Marcelo e a TVI ganharam mais este serão dominical. Mas, na RTP, José Rodrigues dos Santos não poupou na ênfase: a meio da emissão, quando as dúvidas se dissiparam, o pivô não foi de modas: "Senhor Presidente Marcelo". A expressão foi repetida uma, duas, três vezes, anunciando a primavera marcelista que mais tarde se confirmaria oficialmente.
Tudo correu de acordo com o guião. A remota probabilidade de uma segunda volta (RTP e CMTV admitiram-na, ainda que ao de leve, nas suas projeções à boca da urna) nem deu para aquecer uma refrega em que apenas a hecatombe de Maria de Belém chegou a animar as hostes. Jornalistas e comentadores foram dando gás à coisa: Tino de Rans à frente da ex-presidente socialista? Sim, era possível. Estava criado um filão para explorar, mas à medida que as freguesias mais urbanas iam fechando a contagem, foi-se desvanecendo a esperança. Às nove e tal da noite, não restavam dúvidas. Belém e Edgar não tinham cassete para mudar de discurso. Perdiam em toda a linha, mas ficavam à frente de Vitorino. Isso era seguro.
O sexto lugar do "candidato do povo" não passou despercebido a ninguém, mas o seu discurso não passou na TV, num falhanço coletivo de todos os canais, que preferiram filmar a viagem de automóvel de Marcelo entre Belém e a Faculdade de Direito. A essa hora, há muito tempo, já a TVI 24 tinha entrado noutro campeonato. Às 20.23, o canal informativo achou que o futebol falado valia mais do que as eleições e mudou a agulha. As audiências desmentiram a tese. Também entre as generalistas, a TVI foi a primeira a sair de cena, fechando a porta eleitoral e abrindo a da Quinta. A RTP tinha sido a primeira a arrancar. Já a SIC foi a última a fazer baixar o pano.