Turquia abre as portas da Europa aos refugiados. NATO solidária
A Turquia decidiu não impedir mais os refugiados sírios de cruzarem o seu território rumo à Europa por terra e por mar, disse uma autoridade turca à agência Reuters esta quinta-feira, antecipando a chegada iminente de refugiados de Idlib, na Síria, onde há quase um milhão de pessoas deslocadas.
A polícia turca, a guarda costeira e os oficiais de segurança nas fronteiras tiveram ordens para não controlarem os refugiados, acrescentou a autoridade turca.
A Turquia acolhe cerca de 3,7 milhões de refugiados sírios. Sob um acordo de 2016, a União Europeia forneceu milhões de euros de ajuda em troca de Ancara concordar em conter o fluxo de migrantes para a Europa.
Esta quinta-feira, um ataque de aviação contra militares turcos em Idlib matou 33 soldados o que provocou a fúria de Erdogan. Há outras fontes militares que apontam para números ainda mais altos. O presidente turco já reuniu um conselho de emergência e ameaça lançar uma ofensiva militar contra todos os alvos do regime sírio, que tem tido o apoio de militares russos. A posição russa será sempre importante neste conflito
A Turquia está a retaliar contra o regime sírio, confirmou uma autoridade turca à AFP, enquanto pedia à comunidade internacional que cumpria as suas responsabilidades.
"Alvos conhecidos do regime continuarão a ser alvo de ataques aéreos e terrestres", disse em comunicado o diretor de comunicações do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, Fahrettin Altun. "Instamos a comunidade internacional a cumprir suas responsabilidades", acrescentou.
"Decidiu-se responder ao regime ilegítimo [da Síria] da mesma maneira que tem visado os nossos soldados. Com os nossos elementos de apoio aéreo e terrestre, todos os alvos conhecidos do regime serão atingidos. Apelamos ao Processo de Astana [Conversações de paz para a Síra] para cumprir com a sua responsabilidade, especialmente as partes envolvidas e a comunidade internacional ", disse o mesmo porta-voz.
Idlib tem sido território para um violento conflito sírio, com as forças de Assad a avançarem para a região que é um dos últimos redutos rebeldes, mas a ter a oposição de grupos jihadistas apoiados pela Turquia.
Os membros da NATO, reunidos esta sexta-feira de urgência em Bruxelas a pedido de Ancara devido à situação na Síria, expressaram "total solidariedade" com a Turquia e exortaram o regime sírio e a Rússia a pararem os "ataques indiscriminados" em Idlib.
"Os Aliados ofereceram as mais profundas condolências pela morte de soldados turcos nos bombardeamentos de ontem (quinta-feira) à noite em Idlib e expressaram a sua total solidariedade com a Turquia. Os Aliados condenam os contínuos ataques aéreos indiscriminados levados a cabo pelo regime sírio e pela Rússia na província de Idlib. Exorto-os a parar a sua ofensiva, a respeitar a lei internacional e a apoiar os esforços da ONU para uma solução pacífica", declarou o secretário-geral da Aliança Atlântica.
Jens Stoltenberg, que falava numa conferência de imprensa após a reunião do Conselho do Atlântico Norte (ao nível de embaixadores), comentou que "a reunião de hoje é um sinal claro de solidariedade com a Turquia" e sublinhou que "a Turquia é um aliado válido da NATO e aquele mais afetado pelo terrível conflito na Síria, o que sofreu mais ataques terroristas, e que abriga milhões de refugiados".
Depois da Turquia anunciar que não impedirá refugiados sírios de cruzarem o seu território para chegarem à Europa, esta sexta-feira a Grécia anunciou o reforço das suas patrulhas na fronteira com a Turquia. "A Grécia reforçou a vigilância nas suas fronteiras terrestres e marítimas ao máximo", disse uma fonte do Governo helénico.
O número de patrulhas foi dobrado e um pedido de mobilização geral foi feito internamente, segundo fonte policial grega. "Tudo está sob controlo, não há razão para preocupação".
"Estamos a realizar uma monitorização da situação e a adaptar as nossas forças" de acordo com as necessidades, disse outra fonte policial.
Uma fonte do exército grego disse que cerca de 300 migrantes foram vistos no lado turco da fronteira, na região nordeste de Evros. "Este número não é incomum", explicou o oficial do exército.
"A comunidade internacional deve tomar medidas para proteger civis e estabelecer uma zona de exclusão aérea" na região de Idlib, afirmou já esta sexta-feira o diretor de comunicação da presidência turca, Fahrettin Altun.
"Milhões de civis foram bombardeados durante meses. Infraestruturas como escolas e hospitais são sistematicamente alvos do regime", afirmou Altun em comunicado.
"Os padrinhos [do regime], Rússia e Irão, perderão toda sua credibilidade se não cumprirem o seu compromisso de reduzir a violência e as hostilidades em Idlib", acrescentou.
O conflito na Síria matou mais de 380 mil pessoas e deslocou milhões de pessoas desde 2011.