Turismo do Norte: Detida mulher do presidente da Câmara de Santo Tirso
Manuela Couto, administradora da W Global Communication (antiga Mediana) e mulher do presidente da Câmara de Santo Tirso, Joaquim Couto, é uma das cinco pessoas detidas esta quinta-feira pela PJ no âmbito da Operação Éter, confirmou o DN junto de fonte da Polícia Judiciária. Os outros detidos são Melchior Moreira, presidente da Entidade Regional do Turismo do Porto e do Norte, Isabel Castro, diretora operacional da entidade, Gabriela Escobar, jurista da mesma entidade, e João Agostinho, um empresário de Viseu que forneceu equipamentos tecnológicos.
Em causa estão ajustes diretos no âmbito de contratação pública relativos a serviços prestados ao Turismo do Norte em que os montantes foram sobrevalorizados ou, noutros casos, os serviços nem chegaram a ser prestados. Segundo a PJ, o volume supera os cinco milhões de euros nestes contratos agora sob investigação.
Nas detenções efetuadas esta quinta-feira, foram detidos os empresários ligados a dois tipos de prestação de serviços ao Turismo do Porto e Norte. Um diz respeito a serviços de marketing e publicidade, tendo Manuela Couto sido detida neste âmbito. A empresa em causa sucedeu à Mediana que chegou a ser detida por Joaquim Couto, eleito autarca pelo PS e antigo deputado pelo mesmo partido. O outro empresário, João Agostinho, de Viseu, está ligado a fornecimento de equipamentos tecnológicos para a rede de lojas interativas da região de turismo, que engloba 86 municípios.
O presidente da entidade foi também detido e é peça central. Melchior Moreira lidera a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal desde 2009, foi reeleito em junho passado e já foi deputado na Assembleia da República, eleito pelo PSD. Natural de Lamego, Moreira, 54 anos, já foi também vereador na Câmara de Lamego. Os outros dirigentes do turismo detidos são elementos do Departamento Operacional e da Direção do Núcleo Financeiro e Jurídico.
São suspeitos de corrupção, tráfico de influências e participação económica em negócio, mas fonte da PJ adiantou que os crimes possam ser mais, recebimento indevido de vantagem e falsificação de documentos. É certo que existirão mais arguidos.
"A investigação, centrada na atividade da uma pessoa coletiva pública, determinou a existência de um esquema generalizado, mediante a atuação concertada de quadros dirigentes, de viciação fraudulenta de procedimentos concursais e de ajuste direto com o desiderato de favorecer primacialmente grupos de empresas, contratação de recursos humanos e utilização de meios públicos com vista à satisfação de interesses de natureza particular", esclarece o comunicado da PJ.
Foram realizadas 11 buscas, domiciliárias e não domiciliárias, nas regiões de Porto, Gaia, Matosinhos, Lamego, Viseu e Viana do Castelo e estiveram envolvidos 50 elementos da Polícia Judiciária, incluindo inspetores, peritos informáticos e peritos financeiros e contabilísticos.
Este processo já tinha sido iniciado há meses, com uma série de buscas a serem efetuadas em junho passado. Na altura, além das instalações do Turismo do Porto e Norte, foram alvo de buscas as sedes do Sporting de Braga e do Vitória de Guimarães, assim como a Câmara de Viseu. A Procuradoria-Geral Distrital do Porto indicou, nessa altura, que tinham sido constituídos cinco arguidos. "Não percebo o que está em causa, mas estou totalmente disponível para colaborar com as autoridades", disse em junho Melchior Moreira, que afirmava estar "de consciência tranquila".
O presidente da entidade de promoção do turismo é suspeito de ter passado férias no Algarve com as despesas a serem pagas pelos seus alegados corruptores. A PJ adianta que há mais provas de corrupção, com a realização de contratos em troca de outras contrapartidas.
Os detidos, com idades compreendidas entre os 42 e os 54 anos, sendo três dirigentes de entidade pública e dois empresários, vão ser presentes amanhã a interrogatório judicial.