Tudo ao contrário

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Quando a 26 de dezembro escrevi e depois formulei, nas páginas do Diário de Notícias, as minhas expectativas para 2023, estava longe de imaginar que tais votos viessem a ser colocados em causa, de uma forma tão violenta, nestes dias seguintes.

Recordo que, na altura, desejei que "fossemos capazes de devolver ética à política e assim dar mais dignidade ao Serviço Público, fundamental para reforçarmos a nossa democracia".

Os últimos dias e semanas foram quase "tudo ao contrário", daquilo que entendo dever ser o exercício nobre da política e das funções de interesse público e de serviço ao nosso país.

Ser trabalhador ou funcionário público, dirigente da Administração Pública, gestor público ou, em especial, membro do governo, são tarefas profissionais importantes que nos devem deixar orgulhosos, mas acima de tudo que nos devem obrigar a exercê-las com uma exigência que nos considere um exemplo cívico e também ético, para os restantes concidadãos. Não gerimos nada que seja nosso e, em especial por essa razão, temos de o fazer ainda com maior desinteresse pessoal e mais exigência.

Nos casos em concreto, de dimensão política inquestionável, e independentemente da demissão de quem quer que seja, ou da criação de qualquer instrumento de "vetting" sobre candidatos a uma determinada função, exige-se sentido ético e bom senso a quem aceita um qualquer convite para trabalhar para todos nós, sabendo que a sua vida profissional - mas também a de todos os outros que exercem funções de Estado - será vista com mais atenção e exigência para sempre.

O efeito contágio, de quem não avalia individualmente as suas condições políticas para o exercício de funções públicas, é algo que não podemos aceitar.

Finalmente junto a este artigo as duas razões fundamentais da sua redação e que têm a ver com o efeito que estas ações mal medidas têm na perceção pública de um governo e de uma Administração Pública que têm desenvolvido (e bem) medidas de redução do impacto, na vida dos portugueses, da guerra na Ucrânia e, igualmente para o facto de que se nos queremos queixar e apontar o dedo, com o mínimo de razão, do crescimento de movimentos populistas e radicais, temos mesmo (todos) de dar o exemplo.

Renovo por isso os meus votos para 2023, de devolver ética à política e assim dar mais dignidade ao serviço público, fundamental para reforçarmos a nossa democracia.

Ainda vamos a tempo.

Deputado à Assembleia da República pelo Partido Socialista
Ex-secretário de Estado da Energia no XXI Governo Constitucional
Ex-secretário de Estado-Adjunto e da Defesa Nacional no XXII Governo Constitucional

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